Olhinhos amendoados
Sempre foi tão bonitinha
Desde pequeninha a pregar peças
Se esconde e salta da moita
Assusta quem passa na calçada
Corre, grita e dança
Um cisquinho a perambular
De esquina em esquina,
Casa de vó casa de mãe
Olhinhos amendoados
Observa o movimento
Planeja suas travessuras
De menina-moleque-feliz
Não se importa com os gritos
Abstrai tudo e vai brincar
Sempre rindo, sempre esperta
Malandragem que fala
Alfinete que espeta
Risada que contagia, é tudo brincadeira
Pra quê levar a vida tão à sério?
Olhinhos de amêndoas atentos
Menina das perninhas de graveto
Negra Cabeleira ao vento
Lá vai aqueles olhinhos descendo e subindo o morro
Empurrando a bike ou correndo de cachorro
Olhinhos amendoados te conheço já faz um bocado
Ora desperta amor,
Ora esse amor vai pro ralo
Mas olhinhos amendoados
Só vim dizer
Obrigado!
Para A.L.
Aline Rafaela Lelis
Assim ela me escreveu:
“Dizem que na vida quem perde o telhado ganha as estrelas. É assim mesmo. Às vezes, você perde o que não queria, mas conquista o que nunca imaginou. Nem tudo depende de um tempo, mas sim de uma atitude. O tempo é como um rio, você jamais tocará na mesma água duas vezes. Aproveite cada minuto de sua vida, não procure pessoas perfeitas, mas sim aquelas que saibam o seu verdadeiro valor.”
E assim fiquei mais tocada e muito mais grata pela compaixão dessa mulher, que diz o que preciso ouvir e no momento exato. Isso é mais que psicologia, é espiritualidade.
É perigoso desistir dos nossos sonhos
Simplesmente Acontece, 2014.
"O amor é um contrato livre, que se inicia com uma faísca e pode terminar do mesmo modo. Mil perigos o ameaçam, e se o casal o defende poderá salvar-se, mas isso ocorre apenas quando ambos participam".
ALLENDE, Isabel. Amor. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. p 106.
Na primeira doação perdi o chão. Na segunda o coração. Na terceira perdi a cabeça. E depois de perder tudo, aprendi que era preciso eu fazer mais por mim, muito mais... Então mudei o padrão. A minha atenção é para mim, o meu amor sou eu e o meu amigo é Deus. Com essa atitude, voltei a ter chão para pisar, recuperei o coração e a cabeça estraçalhados. Hoje, só tenho uma certeza: morro de amores por mim. Amo-me incondicionalmente. Aceito-me, incentivo-me. Cuido do meu corpo e do meu espírito. Aprendi a integridade, o amor de verdade e o valor de dedicar-me a mim mesma. Com isso, um novo horizonte se abriu à minha frente. Hoje não espero nada de ninguém. Amor é para quem tem. Curto estar sozinha, na minha companhia. Respiro fundo e em paz na minha presença. Nunca mais serei ausente de mim, não importa às circunstâncias. Fidelidade à alma é o segredo.
Aline Rafaela
Homem-paradoxo, assim nomeei meu opressor. Homem metade raposa e metade escorpião. O paradoxo estava estampado em sua testa, ele se vestia de combatente das injustiças do mundo ao mesmo tempo que oprimia mulheres e meninas que estavam sob seu comando. Porque homens assim, covardes como ele, gostam de se sentirem poderosos, gostam de ter a vida de jovens meninas sonhadoras nas suas mãos. O homem paradoxo tinha uma mente doentia como a de H. Humbert, no entanto, não havia sarcasmo na sua postura, muito menos humor. Havia apenas maldade. Um coração sujo. Meu opressor me deixou confusa, mexeu com meu juízo, me fez sair de mim. Fui salva pela fé, e pela esperança de um dia sair das suas garras e nunca mais provar do seu veneno. Minha fé valeu e ainda vale, porque hoje percebo que meu opressor, o homem-paradoxo, não tem um terço do que eu tenho. Dignidade e amor. Meu opressor é digno de dó. E hoje, em vez de vingá-lo. Oro por ele, porque ele não faz ideia do que é ser amado. Ele nem imagina o que o bem é capaz de fazer. Ele não sabe da liberdade de ser o que se é, e acima de tudo, ele não vê o sagrado da vida. Porque para ele a vida não passa de um jogo.
Aline Rafaela Lelis
Quero sim, um lugar onde eu possa me deitar sem me preocupar se alguém vai bater à minha porta. Um lugar tranquilo e arejado onde eu possa curtir meus livros, meus felinos, meu incenso de alecrim e espreguiçar na cama qualquer hora do dia sem condenação. Ouvir sem pressa o cantar dos passarinhos à tarde. Cuidar das minhas plantas, planejar minhas viagens.
Eu quero e vou conquistar a calma de quando sabemos que o nosso tempo é só nosso. E daí poder divagar com nós mesmos nossas dores, nossos desejos mais íntimos e nossas alegrias mais sutis.
Quero sim, construir um lar semelhante a um jardim florido com muito amor e silêncio. Isto, silêncio. Porque só o silêncio nos faz ir fundo na alma e ouvir nossas intuições. Precisamos edificar esse lar para quando estivermos cansados. Ou quando o mundo parecer agitado e chato. Que este espaço que sonho me sirva de abrigo em todas as circunstâncias.
Eu quero e vou adentrar meu espaço sagrado, e lá extravasar meus sonhos e desejos, realizar as minhas fantasias, deixar-me perder nas estradas de flores e voar mais alto que as árvores frondosas.
Depois de acessar o meu jardim, só almejo elevar a minha alma a outros lugares-jardins ainda mais sublimes.
Aline Rafaela Lelis
Sol quente bate nos olhos
Bate a vontade daquele mar
O Rio me olha, sorrio para o Rio
Às margens caminho pra qualquer lugar
Aline Rafaela Lelis
“Confie em quem vê três coisas em você: a tristeza por trás de seu sorriso, o amor por trás de sua raiva e a razão por trás do seu silêncio.”
— Caio Fernando Abreu. (via alentador)
Embora muito próxima, ela sempre me pareceu indecifrável. Do tipo de pessoa que não se pode esperar muito. Ela me entristece nas pequenas coisas. Na ausência da escuta e na frieza dos gestos. Abraçá-la é semelhante a tocar um estranho. Diferentemente do abraço que cura, seus braços não são envolventes e não dizem nada além de boa educação. Essa falta de calor, essa contenção dos sentidos por si só magoa. Uma bobagem… Porque abraços aconchegantes é comum entre mim e outras pessoas. Mas penso que o afeto entre irmãs deveria ser condição mínima para cristalizar os laços.
Aline Rafaela