Eu não consigo pensar
Com essas vozes gritando
Sobre ódio
Sobre discórdia
Sobre morte
Você voltou e largou sua mala na porta
E sua aura podre no cabideiro
Eu só quero que você vá embora
E leve essa névoa junto a ti
E deixe os poucos que te restaram, ficarem em paz
Meus Deus, eu não aguento mais ter que ser um adulto funcional! Meu corpo está dando sinais claros de que eu preciso passar um tempo isolada em um quartinho acolchoado.
As vozes deles ecoam nessa sala branca
E isso me deixa de estômago embrulhado
Eu já tentei botar isso para fora, sem sucesso
Ainda estou enjoada, e com raiva, raiva, RAIVA!
A cada dia é pior, as vozes me sufocam
"O ser humano é um ser social" eles dizem
Mas a cada dia sinto mais a certeza de que não quero fazer parte dessa espécie
Hoje é um daqueles dias que eu só queria ter o poder de voltar no tempo para não deixar o meu "eu" do passado se matricular no curso de análise e desenvolvimento de sistemas.
Se tem uma coisa que eu faço demais (e que provavelmente não faz bem nenhum pra minha saúde mental) é ficar criando versões alternativas da minha vida — cenários que nunca aconteceram, mas que poderiam ter acontecido se uma coisa ou outra tivesse sido diferente. Exemplo: Às vezes eu penso em como teria sido conhecer os pais da minha mãe, num universo em que o meu avô não tivesse traído ela com uma prostituta. Nesse universo paralelo, talvez ela não tivesse largado os remédios da hipertensão e, quem sabe, não tivesse morrido daquele jeito que até hoje a minha mãe se recusa a chamar de suicídio.
O meu avô morreu alguns anos depois, de um problema nos pulmões. Tudo que sei sobre os dois são fragmentos — de um lado, as lembranças idealizadas que a minha mãe guarda; do outro, comentários aleatórios que o meu pai deixava escapar quando ela não estava por perto.
Às vezes me pego imaginando os dois cantando parabéns comigo, ao lado dos meus avós paternos, na minha festa de aniversário temática de Os Incríveis, com direito a brinquedão inflável e tudo.
Fernando de Almeida Residence (1969) in Sao Paulo, Brazil, by Eduardo de Almeida
All my respect to jews, but no respect to zionists.
Estou vendendo anos de fofocas escandalosas da minha família para quem quiser comprar. Acho que serviria muito bem para um livro.
Meu corpo está perecendo
Bem, o de todos vocês também está
Eu sinto meu corpo perecendo
E esta sensação, essa sensação é desesperadora
Por que meus ossos doem?
Eu estou morrendo?!
As vezes, eu acredito nisso
Mas todos nós estamos morrendo
Mas qualquer coisa fora de ordem
Fora de ordem no meu corpo quase perfeito
Me faz perder o controle
As vezes parece que é o fim
Ou o começo de uma desgraçada
Assistindo umas das minhas séries favoritas sobre um homem trans (Abraham Simpson) e o seu filho deficiente intelectual (Homer Simpson).