Eu acho que comi uma minhoca.
Talvez você estivesse entre elas,
Debatendo-se onde a luz é pouca,
Você gritava suas mazelas.
Porque tu, amor, não é mais que verme
— amo-te unicamente por ser verme:
Só ama ao parasita o compatriota,
O só simbiota ao só simbiota.
Meu amor, quando nos consumimos,
Somos animais ou antropófagos?
Quando deixamos de ser indivíduos,
Ainda regem as leis aos nossos afagos?
Devorei-te por ser podre, no final.
Diz o público que sou o que como,
Portanto, passo a comer quem sou:
Somos o sumo mutual consumo,
A ouroboros de um deus frugal.
( Juntamo-nos em um ser somente:
No suicídio vivemos eternamente,
Na dissonância, se ouve consoante:
"Não te amaria se fosse gente")