fidelidadeaalmaeosegredo - Preserve a Alma
Preserve a Alma

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Amor e desamor fazem parte de uma só face. Aquele por quem sofri é minha metade. Aquele que me amparou só vou deixar saudade. Neste jogo não existe culpado. A vida é que é cheia de surpresas e como nós reagimos não pode ser julgado. Cada um sabe de si. Cada um deveria saber sobre si. E ter consciência que nossas escolhas desencadeiam em fardos e fatos que só nós sentiremos na pele como lidar. No entanto, para que nossa breve vida valha a pena. O amor deve absorver em luz qualquer sentença.

Aline Rafaela 

Oração

Oração

Enquanto aguardava o ônibus na guarita, percebi que estava no meio de uma estrada e que dois homens me observavam invasivos e sedentos. Talvez esperando qualquer “sinal” meu que eles pudessem interpretar “essa aí tá pedindo”. Eu comecei a ficar nervosa e angustiada. Os dois me olhavam e conversavam entre si. Enquanto isso, os motoristas que passavam em suas carretas gritavam qualquer coisa, “cantada?”. Foi então que comecei a pensar em todas as mulheres que talvez, naquele momento, estivessem passando pela mesma situação, com medo, sentido-me culpada antecipadamente por um crime que sequer havia ocorrido. Eu pensava: “Se aqueles homens que me observam há um metro de distância ou qualquer homem que parasse seu automóvel agora me violentasse, eu seria a culpada, afinal, por que não escolhi outro lugar para pegar o ônibus? Ou por que não resolvi meu problema antes, para não precisar estar aqui sozinha? Ou ainda, por que estou de cropped na beira do asfalto?” Fiquei com vontade de chorar. Coração apertado. Daí comecei a pedir ajuda das deusas, fui evocando mulheres que admirava, pensando nas minhas ancestrais, e uma canção foi entoada. Senti meu corpo arrepiar e a presença de uma forte energia que acalentava meu desespero. De repente me senti forte. Me senti uma guerreira e juro que seria capaz de destruir qualquer homem que atentasse contra meu corpo. A canção entoada foi assim:

“Iansã me proteja de todo mal de todo homem.

Iansã me proteja de todo mal de todo homem”.

Entoei essa canção e marquei o ritmo com palmas. Senti no coração a força de uma legião de mulheres guerreiras. Não parei de cantar um segundo. Até que os dois homens que me observavam foram se distanciando, e em pouco tempo um homem uniformizado se aproximou. Ele era funcionário da empresa de transporte que eu aguardava, esperava o mesmo ônibus, chegou com serenidade nos olhos, não o vi como ameaça. Diminuí meu canto e passei a repeti-lo mentalmente. Meu ônibus chegou. Mandei uma mensagem para uma amiga sobre como estava me sentido. Ela respondeu: “Sinto muito que esteja se sentindo assim. Sinta-se abraçada. Você não está só!”

Aline Rafaela

Amores para quem escrevo agora. Será que é pedir muito desejar voltar ao passado? Há momentos tão marcantes em nossas vidas que desejamos voltar no tempo para senti-los novamente, ou nos sentirmos como em determinado momento ou acontecimento, ou fase da vida gente. Cada fase tem um tom, um cheiro, uma energia, uma vibração, pessoas, músicas. Meus amores, vocês podem argumentar que novas fases virão, que o caminho para o novo deve estar livre, eu sei. Mas é pecado isso? Embora eu saiba que o novo está por vir com sua unicidade. A unicidade de outro momento se foi, e a vida se faz tão breve! Demoramos tanto a perceber sua brevidade e delicadeza... Se pudesse ter ontem a consciência que tenho hoje... ah, quantos pôr do sol a mais eu não teria visto? Quanto beijos a mais não teria dado? Quantas insignificâncias eu não teria perdoado? Meus amores, eu nem cheguei aos 30 e já falo do passado como uma velha saudosista no auge dos  seus 70  anos. Ah, mas quantos abraços mais demorados eu não teria dado? Quantas risadas despreocupadas? Quantos olhares não teria fitado mais intensamente? Quantos gatos teria adotado anteriormente? Ah... quantas, quantas... quantas vidas são necessárias para aprendermos a lição? Quantos tombos ainda estão previstos na caminhada? Qual de vós vai me eleger para ser sua namorada? Meus amores, isso é tudo que sinto. Isso é tudo que sou, uma parte saudade, outra parte amor. Mas sempre em partes, que só fazem sentido num mosaico colorido. Que é quando junto as peças me percebo inteira, porém deslocada, eloquente, mas sem certeza. 

Ah... Meus amores! O que quero de vós senão tê-los por perto, certos de que compreendes minhas particulares insanidades.

Aline Rafaela

É perigoso desistir dos nossos sonhos

Simplesmente Acontece, 2014.

Lá onde o fim da tarde é lilás

Deixei meu coração descansando

Um dia volto para buscá-lo

Se ele já não tiver ido com o oceano.

Aline Rafaela 

image

Seu toque cura feridas de vidas.

Suas mãos conduzem meu corpo

ao prazer mais sublime do toque,

Que ecoa em gemidos e sussurros,

Compondo um batuque rítmico.

Dos pêlos em festa, dos órgãos em dança, da cabeça em transe.

Da transa, do ajuste, do acordo implícito.

Acordo como se tivesse viajado

Para uma galáxia distante,

Para um mundo de instantes.

Viagem que transcende as dores,

Os horrores, as memórias de outrora.

Volto com outra energia

Com calma nos olhos

Vontade de desaprender

Coração aberto para receber (Seu amor)

Cabeça aberta para dialogar com clareza,

Desaprendo conceitos

E aprendo a receber sua energia

Que cura cada pedacinho antes em dor,

Que me diz que a vida precisa de calor,

Que aponta o meu lado criativo

E meus ovários fazem festa

Me encontro no encanto,

Na beleza de uma mandala

Na poesia dos meus contos

Na beleza dos meus gestos

Onde me (re) descubro mulher

Feminina

Leão sendo domado pela mulher e pela menina.

Corrente eletrizante me corta a espinha

Despertando meu corpo inteiro em volúpia

Espinha se contorcendo na cama,

Como cobra procurando abrigo no vão das rochas.

Você me endeusa e reconhece minhas fraquezas,

Me concede humanidade no corpo que vc diz deusa.

Sobre os meus pés você bate cabeça,

Respeita meu corpo como um templo,

E meus sentimentos como um mantra sagrado

No meio disso tudo eu relaxo

E me calo.

Desperto.

Me abro.

Desabrocho em flor.

Me espalho em rosas.

Enfeito o mundo.

Abraço o todo.

Respiro fundo.

Recebo.

Agradeço.

E transmuto toda memória

Em puro amor.

Aline Rafaela Lelis

18 de outubro de 2018

Menina De Cabelos Vermelhos

Menina de cabelos vermelhos

Sua imaginação é tudo que tenho no momento

Encontra-la aleatoriamente nesta vida

Foi a melhor coisa que me aconteceu

Seus olhos azuis e grandes como bolas de gude

Me fazem viajar no tempo,

Vendo você menina reconheço a menina que fui

Estranha, imaginativa, sensível...

Você veio me dizer que eu preciso fazer as pazes comigo mesma

Com aquela que sobreviveu as mais cruéis adversidades

Você veio me mostrar que, de certa forma, eu ainda sou menina

E tenho um mundo para descobrir

E eu só tenho que agradece-la por existir

Mesmo sendo você, apenas uma personagem de um livro bom

Aline Rafaela Lelis

Praça, damasco, coreto

O centro da vila pacata

Em movimento lento

Há onze anos já foi palco

Do primeiro amor

Há um ano serviu apenas

Para endurecer corações machucados

Há poucos meses virou cenário

De um filme em preto e branco.

A vila, hoje cidade

Anda em círculo na existência

E dessa roda eu desviei

Meus pensamentos e lembranças

Um salto me levou

Para outras rodas existenciais

E lá não tem espaço para lembranças vis

Lá estou em trânsito

Com gente indo e vindo.

Onde me encontro agora

Tudo tem mais equilíbrio

E o passado é só uma velha roupa colorida.

Aline Rafaela Lelis

Ryane Leão, No Livro ‘Tudo Nela Brilha E Queima’. São Paulo: Planeta Do Brasil, 2017 Https://www.instagram.com/p/BqaaZWfFq2z/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=fxq6vcp7h56a

Ryane Leão, no livro ‘Tudo nela brilha e queima’. São Paulo: Planeta do Brasil, 2017 https://www.instagram.com/p/BqaaZWfFq2z/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=fxq6vcp7h56a

Carolina Maria De Jesus, No Livro ‘50 Poemas De Revolta’. São Paulo: Companhia Das Letras, 2017

Carolina Maria de Jesus, no livro ‘50 poemas de revolta’. São Paulo: Companhia das Letras, 2017 https://www.instagram.com/p/BqaLnWdFC3P/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=tsaiur0uiipn

Ela é A Minha Inspiradora, 6 Anos Mais Velha, Cantora, Beleza Indecifrável. Ela Tem Tudo Que Uma Mulher

Ela é a minha inspiradora, 6 anos mais velha, cantora, beleza indecifrável. Ela tem tudo que uma mulher negra pode desejar para si. Firmeza nos gestos, voz que vibra num tom delicado algodão, com a suavidade do mel. Ela é colorida e já rodou o mundo. Ela serve a música (preta), ela está em expansão. Ela é a visão que tenho da liberdade, de tudo que me prende à auto-sabotagem.Ela tem fé na mulher. Ela é a voz ancestral feminina que veio cantar para todas nós. Meninas, mulheres e senhoras. Ela é feliz! Entendeu a sua missão. Ela não está na contramão. Ela é a mão da via mais sincera para chegar ao coração. Ela é minha musa inspiradora.

Eu sou a musa inspiradora da mulher que vive à beira da linha, no barraco com chão de terra batida. Eu não tenho a voz da minha musa. Não visto as roupas que ela veste, nunca fui capa de revista, nunca saí do país. Não visitei nem mesmo o nordeste. Tenho fé aquebrantada e olhar que já despertou coragem. Eu sou a mulher caída no meio do caminho. Entre a luz e a sombra. Tentando atravessar ilusões, tentando transpor barreiras, tentando não desistir da luta. Descobrindo meus dons, meus tons, e, de vez em quando, até entro no ritmo, para logo descompassar no abismo dos pensamentos  que no passado dizia que meu lugar era o sub-lugar.

Embora não seja a pessoa que quero, a mulher destemida, a guerreira invencível, a mulher que tem a si e levanta sua força como estandarte. O caminho que trilhei até aqui, por mais que pareça pouco aos meus olhos e sentidos sabotadores, esse caminho é admirado pela mulher que vive no barracão de chão de terra batida na beira da linha de trem. Para essa mulher, eu sou inspiração, eu inspiro coragem pela postura que ela acredita digna, pela eloquência das palavras ditas.

Essa moça também é minha inspiração. Ela não desistiu apesar de tudo.

Três mulheres pretas cujo destino se entrelaçam na energia misteriosa que nos projeta para o futuro com o desejo de crescer, de nos tornarmos melhores de vencer nossas dores, de ir adiante com os nossos sonhos, de descobrir nossos talentos, de soltar nossas vozes, de permitir nosso corpo à dança, ao som dos tambores, de permitir nosso corpo a mobilidade que nos é intrínseca. De nos realizar enquanto potências que somos. De carregar nos olhos nosso passado transmutado em amor.

Todas elas são minhas musas inspiradoras,

Todas nós trazemos no peito nossas histórias,

Todas nós somos únicas da forma que somos,

Todas nós estamos alimentando o sonho,

de liberdade.

Ela é minha inspiração. Eu sou a inspiração dela. Que é a musa inspiração de outra. Da outra que inspira o mundo inteiro.

Ama-te. Valoriza-te. Realiza-te. E você estará fazendo o melhor pelo mundo. Seja feliz e sua missão estará sendo cumprida. Seja luz que o Universo também será. Seja a mudança e a força. Somos uma só, uma só coisa.

Mulher, eu sou você e você é eu. Somos espelhos refletindo a força que nós estamos destinadas a ser mundo.

Aline Rafaela


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Se você morresse para o passado, se morresse para cada minuto, você seria uma pessoa que está viva por completo, porque um indivíduo vivo é aquele que está cheio de mortes.

MELLO, Anthony de. Despertando para o Eu. São Paulo: Siliciano, 1991. p.170

AUTO-RETRATO FALADO

AUTO-RETRATO FALADO

Em 29.09.1989 eu vim ao mundo. Minha história é um feliz absurdo. Há quem observe a minha vida de longe e imagina que eu nasci assim, desconstruída. O jardim do outro é sempre mais florido né? Mas não. Tenho as minhas lutas e as minhas dores. Carrego minhas vitórias e meus desamores. Sou imperfeita como todo ser humano e escondo muitos sentimentos debaixo do pano. Quem me vê hoje, de cabelos curtos e impetuosa, pensa que eu sempre fui rosa. Mas a rosa um dia não foi semente? Não buscou solo fértil, água e luz para crescer? Comigo não é diferente. Embora tenha nascido na primavera, que é a minha estação preferida, trago no meu viver uma dor de rosas despetaladas, e tenho feridas que ainda estão sendo cicatrizadas. Meu caminho pelo mundo é uma história de superação. Superei cada não dessa sociedade racista e machista. Quem foi que disse que eu não era bonita? Quem foi que disse que eu não poderia estudar? Quem foi que disse que mulher pobre e preta tem o seu lugar?  Indagar o mundo foi a maneira que encontrei para não reproduzir cada resposta pronta que me davam, o famoso “infelizmente é assim”. Mas por quê? Quem disse? Esse meu jeito inquiridor me trouxe muita dor. Mas engana-se quem pensa que a dor não faz parte. Eu nasci para fazer arte. E venho vencendo cada desafio, com coragem e persistência. Minha vida é um ato de resistência! Quando liberto um grilhão, minhas ancestrais sobem junto comigo. O passado de exclusão e ignorância chega até a mim com a esperança de transformar cada dor e opressão  de outrora em amor e empoderamento. Quem está ligado na História sabe que esse é o momento. Por isso, meu amor próprio torna-se revolucionário, assim como a aceitação de tudo que um dia foi negado, minha cor, meus traços, meu cabelo, minha história. Meu caminho pelo mundo eu faço libertando memórias. Aceito e agradeço quem eu fui ontem, e me preparo para quem eu quero ser amanhã. Hoje sou mulher em transição. E talvez sempre serei. Aquela que explora toda sua força feminina para a criação do mundo que eu quero ser e ter. De cabeça erguida sempre, lutando a favor ou contra a corrente. Sigo sempre em frente, olho sempre para o alto e, quando me é oportuno, dou aquele salto. No meu coração trago a angústia de quem nasceu na era de aquário, de quem atravessou o portal da existência para tirar a verdade do armário e escancarar os valores obsoletos desse mundo atrasado.    A dor que trago comigo, já adquiriu status de elegante. Cada um sabe da dor que carrega, do peso que suporta, da alegria que transborda e da esperança que comporta. Da vida só espero viver. Viver consciente. Viver o instante. Saber que não estou morta antes de morrer, é o mais importante.

Aline Rafaela

O que acham que a maioria das pessoas está fazendo na vida? Impressionando os outros, nada mais. Fazendo de tudo para não serem criticadas. Buscando aceitação. Fico me perguntando quantos seres humanos não estão obcecados com isso, vinte e quatro horas por dia, de forma consciente ou não. A consequência? Pouquíssimas pessoas vivem de fato.

MELLO, Anthony de. Redescobrindo a vida: desperte para a realidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p.117.

Solidão não se cura com companhia humana. Solidão se cura com contato com a realidade - entendendo que vocês não precisam das pessoas. Por fim vocês conseguem apreciar os outros porque não precisam deles.

MELLO, Anthony de. Redescobrindo a vida: desperte para a realidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 116

você não precisa estar pronto para falar sobre dores, expor feridas.  respeite seu tempo, as flores vão brotar das suas cicatrizes. 

cr.

Olha moço, com todo o respeito que tenho pela sua pessoa, o seu caso de amor é uma história de esperança. Gostar de quem não gosta da gente é no mínimo insanidade. Mas acontece. E pelo que vejo, você espera pacientemente por essa moça. Isso é bonito. Quem dera eu tivesse alguém para pensar. Tenho andado cética em relação ao amor e construído barreiras que impedem qualquer um de buscar meus olhos. No fundo, queria ser essa moça, que é amada em silêncio e nem te leva em consideração. O amor silencioso é o mais belo. É aquele que espera o tempo da pessoa amada, não importando que esse tempo seja eterno. E eu moço, embora não ame ninguém, tenho aprendido a gostar de mim, mais do que convém. 

Para F. L. 

Aline Rafaela 

"Se acreditarmos que a mente é contínua, o nosso amor pelos outros torna-se contínuo.Se reconhecemos essa continuidade, nós não confiamos no temporário, nas circunstâncias tangíveis, ou as levamos tão a sério. Se acreditamos na continuidade da mente, então o amor discretamente nos conecta com aqueles que amamos, com energia contínua positiva, de modo que mesmo tangíveis separações entre as pessoas que se amam não reduzem o poder intangível do amor. Por acreditar na continuidade da mente, reconhecemos a continuidade de todas as circunstâncias, incluindo nossas experiências de amor, que não são apenas por um momento ou por uma vida."

- Trinley Norbu Rinpoche.

“A vida à qual Jesus nos chama é completa loucura aos olhos do mundo.”

— Louco amor, Francis Chan.

Tudo o que buscamos e tudo o que experimentamos - tudo - está dentro de nós. Se você quiser mudar alguma coisa, faça-o interiormente, não externamente. A ideia como um todo é a total responsabilidade. Ninguém é culpado. Tudo é você.

Vitale, Joe. Limite Zero. 

“Mas é preciso ter força/ É preciso ter raça/ É preciso ter gana sempre/ Quem traz no corpo a marca/ Maria, Maria/ Mistura a dor e a alegria/ Mas é preciso ter manha/ É preciso ter graça/ É preciso ter sonho sempre/ Quem traz na pele essa marca/ Possui a estranha mania/ De ter fé na vida”. (Milton Nascimento)

Quando era criança, por volta dos seis anos, me lembro bem, aliás, fato que nunca mais esqueci – uma menina branca, de cabelos loiros e olhos bem azuis da minha escola. Eu, sem saber por que,  admirava gratuitamente aquela encantadora menina, sem mesmo saber o que era admiração.

Certo dia, quando minha mãe buscou-me da escola e resolveu passar na casa de minha avó (vó Lilia), eu, criança estranha brincava na copa escura pensando loucuras. Minhas loucurinhas de criança filósofa, quando me deparei ali na minha intimidade, com a menina dos meus sonhos. Fiquei anestesiada. Que raios aquela “princesa” fazia ali? Sua mãe havia levado costura para minha tia, a Maria Costureira, e ela, doce e meiga acompanhava a mãe timidamente. Eu tinha seis anos e ela cinco.

A copa, a meus olhos ficou iluminada com sua presença, sua pele clara e macia, seus olhos azuis emanavam luz pelo cômodo sombrio. Olhos grandes, assustados, confusos e cor do céu. Cabelos lisos, sedosos e amarelos. Aquela menina era tudo que eu queria ser e não podia. Eu a via na escola e me entristecia. Por que Deus fazia algumas pessoas tão belas e outras não? Tentava por mim mesma decifrar esse mistério. Por que havia eu ter nascido tão feia, de pele negra, cabelos crespos, testa avantajada?

Aquele dia nós duas brincamos, coisa que não fazíamos na escola. Eu a tocava cuidadosamente, como um fiel toca uma imagem santa, na crença de alcançar alguma graça, alguma cura ou verdade. E naquele momento eu realmente desejava alcançar a graça de um dia ser branca e ter cabelos “bons”, naquele momento pedia em silêncio a cura desse mal de ter nascido negra. Eu buscava a verdade sobre mim mesma, porque não podia ser como ela? A Santa Priscila?

Priscila era o nome dela. E, enquanto brincávamos, eu ficava feita boba, admirando sua beleza. Meninas como ela eu só via na televisão.

Sugeri que brincássemos de “salão de beleza”. Desculpa é claro para poder tocar seus cabelos demoradamente. Como eram belas as suas madeixas lisas, como deslizava por minhas mãos pequenas e como cheirava bem aqueles cabelos. Priscila interrompeu a “brincadeira” para ir ao banheiro, mostrei-a onde ficava e a esperava avidamente, com medo que ela desistisse de brincar ou que sua mãe a chamasse para ir embora. Enquanto ela estava no banheiro punha-me a pensar – “aquela menina deve ter ido fazer xixi, uma menina tão bonita quanto ela não pode fazer coisa tão suja como cocô”. Eu fazia cocô, mas também eu não era bonita, eu não era nada. Mas Priscila, a quem eu chamava carinhosamente de Pri, com tão pouco tempo de intimidade, ela não. Ela não devia fazer cocô. Tão gracinha, tão fofa, imaculada e divinizada por mim.

Priscila era minha antítese.

Depois que ela foi embora estranhamente senti algum vazio. Meu “sonho” nunca estivera tão perto como naquele dia. Dezoito anos se passaram. Priscila certamente jamais recordará desse dia. Ao contrário de mim, que carrego essa lembrança como um fardo. E de tempos em tempos, essa história ganha significados diferentes, hora trazendo superação e coragem, hora trazendo angústia e medo.

Priscila era tudo que eu queria ser e não podia, ela era branca, e isto bastava. Naquele mesmo fim de tarde, de uma brincadeira aparentemente inocente, me dei conta que eu jamais seria como Priscila, e estava condenada o resto da vida a ter a pele escura. Ao concluir isso senti medo e vazio. Nesta época eu não fazia ideia do que acontecia, eu não sabia exatamente o que era ser negra, mas sabia com muita precisão que ser branca como a Priscila era algo bom, sabia isso só de olhar para ela. Assim, naturalmente doce, naturalmente bela, naturalmente “princesa”, naturalmente santa, “virgem Maria”.

Naquela época eu ainda não sabia o que era racismo, mas o sentia nas minhas entranhas. E como doía não poder ser como Priscila. Que gosto amargo experimentar ainda na infância a sensação de não ser nada, que gosto amargo se curvar ainda tão inocente diante da brancura, sem saber exatamente o que nos leva a tanto.

Quando Priscila foi embora, entrei correndo no banheiro para confirmar minha dúvida: “gente branca caga?” Fiquei lá por alguns minutos, observei a bosta da Priscila. A bosta que ela me deixou como recompensa sem mesmo saber. O cocô boiava e eu o olhava sem pensar muita coisa. Eu nem me importei com o mau cheiro. Na verdade eu não podia nem senti-lo. Diante da brancura dela não havia bosta, não havia odor, não havia mal.

Mas havia eu. Um eu alheio a mim mesma. Um eu descontente por não poder ser como Priscila e pior, nunca poder vir a ser.

Havia dor também, esta é inevitável e desperta cedo nessa gente preta. Ainda menina é preciso lidar com um monte de coisa de gente grande e isso fatalmente não tem escolha. Priscila jamais recordará de mim. Aliás, Priscila hoje, não é uma criança branca, loira e com olhos claros. Priscila é hoje uma mulher. Branca, loira, de olhos azuis, magra. “Perfeita”. Priscila hoje, provavelmente pensa que cor é só um detalhe, para ela a cor não importa porque somo todos iguais. Priscila hoje é contra as cotas e afirma categoricamente que racismo não existe. O mundo da Priscila mulher hoje é tão irreal quanto o mundo da Priscila menina ontem.

E eu? Eu hoje, dou graças à Deus de ser diferente da Priscila. Eu hoje, agradeço meus antepassados pelo legado deixado, principalmente o legado da cor, essa cor magnificamente negra. Eu hoje sei que estou muito além de onde Priscila possa estar, ou ousa estar um dia. Hoje, eu sou um mundo inteiro e além. A brancura da Priscila um dia escureceu minhas vistas. E então eu passei a ver tudo negro. Como tinha que ver.

E ser. 

Aline Rafaela Lelis

(Escrito em  19/12/2013)

Spring Gif! Experimenting With Making Gifs On Photoshop. :)

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Amar significa entregar-se sem garantia, dar-se completamente na esperança de que nosso amor produzirá amor na pessoa amada. Amar é um ato de fé, e quem tiver mesquinha fé terá mesquinho amor.

FROMM, Eric. A arte de amar. 4. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1964. p.121.

Não me interessa o que seus olhos tecem. Me interessa a vida que só dentro de mim acontece. Tudo que me é externo, só é possível apreender internamente. São meus os medos, as mágoas, as angústias e as preces. Só eu sei dos meus sonhos e só eu sinto meu coração se agitar e se acalmar constantemente. Só eu abro e fecho meus olhos. Só eu sinto o pulsar que é sinal de vida. Da vida que acontece dentro de mim e que só eu posso sentir. Já senti medo, já me desesperei com a consciência da vida, porque junto dela a morte nos espia. Sou eu e o todo num movimento que às vezes pede socorro, outros, literalmente vivo e morro. Vida e morte escorrem a todo momento, como as notícias que chegam com o vento. Nossa casa é a Terra, mesmo assim não cuidamos dela. Nosso mundo é Deus que nos olha pela janela. Um sopro de paz é consciência iluminando a vida. É o amor transbordando em vida. É a vida, cujo o único sentido, é o amor.

Aline Rafaela 

Notas de Celular (Junho - 2018)

Se hoje navego por águas tranquilas, é porque eu acreditei na promessa de calmaria após a tempestade. Eu passei um tempo doente, e minha doença atingia meu espírito. Eu fiquei fraca, tão fraca... que já não era capaz de reagir a nada. Meus olhos amarelados e sem vida gritavam por socorro, e a fraqueza do espírito me levou a fraqueza da carne. Eu dormia dezesseis horas por dia e estava sempre fatigada. Quando estamos assim, muitas pessoas aproveitam da nossa incapacidade de auto-defesa. Nessa época fui humilhada por muita gente mesquinha. Mas eu não desisti da minha cura. Hoje, quando vejo a minha disposição e energia, fico imensamente grata à Deus por me sentir viva e cheia de energia para continuar lutando. E nesse processo, reciclei a alma e o corpo. Me sinto tão leve, amada e sagrada.

Hoje sei que milagres acontecem todos os dias!

Aline Rafaela 

Notas de Celular (Começo de 2018)

Uma lição de amor chamada Meg

Tanta meiguice, tanto amor... Ela veio e me mostrou que eu posso enxergar o mundo com os olhos da alma. Ela me mostrou quanto amor havia em mim. Em ações singelas, ela fez transbordar em mim sentimentos nobres. Eu aprendi a amá-la gratuitamente. Ela me fez sentir o amor em estado bruto. Através dela pude compreender o amor cristão. Ela me ensinou a ser melhor, e ainda ensina, quando na sua ausência, me lembro de ser grata ao Universo por tê-la tido na minha vida. Sei que nossos laços são eternos e que é preciso expandir esse amor para o Universo. Eu ainda continuo a aprender o amor na sua ausência.

Aline Rafaela

Notas de Celular (Outubro - 2017)

Natiruts - Pérola Negra (Ao Vivo)
Vídeo oficial da música Pérola Negra de Natiruts. Clique para ouvir a faixa: http://smarturl.it/NatiReggaeBrasil.S Assine o canal de Natiruts: https://www.yo...

Tente passar pelo que estou passando Tente apagar este teu novo engano Tente me amar pois estou te amando Baby, te amo, nem sei se te amoTente usar a roupa que estou usando Tente esquecer em que ano estamos Arranje algum sangue, escreva num pano Pérola negra, te amo, te amo Baby, te amo, bem sei se te amoRasgue a camisa, enxugue meu pranto Como prova de amor mostre teu novo canto Escreva num quadro em palavras gigantes Pérola Negra, te amo, nem sei se te amoTente entender tudo mais sobre o sexo ehh Peça meu livro querendo eu te empresto uhh Se inteire da coisa sem haver engano Baby, te amo, nem sei se te amo Pérola negra, te amo, te amo Baby, te amo, nem sei se te amo Pérola Negra, te amo, te amo Pérola Negra, te amo, nem sei se te amo Baby te amo, nem sei se te amo Baby te amo, nem sei se te amo

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