Doeu, não nego. Chorei de saudades, de vontade de estar junto, chorei porque era inevitável. Me senti sem chão, sem rumo, num buraco fundo do qual eu não conseguiria sair tão cedo, e de certa forma foi assim… Você era minha direção, e você foi embora. Eu imaginava um futuro ao seu lado, uma família, filhos, fins de semana no parque ou em casa assistindo um filme qualquer, o lugar não importava desde que fosse com você. Mas de repente, sem eu menos esperar, você foi embora. Sem rodeios, choros, simplesmente você foi. Demorei meses para me reerguer, construir uma vida, na qual você não estaria nunca mais e seguir em frente, que com toda a certeza do mundo, foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Doeu, mas me fez crescer. Não guardo mágoas, nem rancor, apenas desprezo, você tinha tudo e não valorizou. Amor tem que ser recíproco, caso ao contrário, eu dispenso.
“Poesia é uma coisa bonita, né, professor?”
Quando eu tinha quatorze todo o meu corpo era uma floresta, a vida me deu incêndios, e eu decidi respondê-la com fogos fátuos. Existe uma magia quando você é amaldiçoado pelas palavras, e eu vejo elas lhe perseguindo por toda parte. Cabeça abaixada, olhos cheios de raiva e dedos prontos para se meterem em confusão.
Leandro: você deveria escrever tudo o que está aí dentro e não aprisionar nenhum desses fantasmas!
Já que eles sempre voltam, quando menos esperamos, lá estão eles nos rodeando, contando-nos histórias, inventando mentiras.
Querido, você olha para as pessoas com esse rosto impassível de emoção, enquanto o seu coração grita por vida. Você carrega dentro de si uma fonte inesgotável de arte, capaz de tocar a alma de muitas pessoas. Um dia, suas palavras ecoarão em outros corações, e você nem imaginará o impacto que terá causado.
Eu estava aqui em casa, quando lembrei que tenho um livro que você irá gostar, preparei ele para você, lhe entregarei, como uma oração que uma mãe faz pelo filho enquanto ele dorme.
Rapaz, que a poesia esteja sempre ao seu lado, que traga ânimo para a sua vida quando tudo parecer escuro demais.
Meu querido passarinho, infelizmente, viver é estar sujeito à dor; é não passar no sétimo ano; é odiar os gritos dos seus pais na sala de estar durante o domingo à noite; é ir para escola e abaixar a cabeça na mesa, pois os seus pensamentos pesam uma tonelada. Mas, quero que você nunca se esqueça que existe um outro lado do viver, viver é estar sujeito ao riso ao redor das pessoas que amam você; é se apaixonar mesmo que quebre a cara logo em seguida; é transformar aqueles pensamentos em poemas como os do final do seu caderno.
E você será guiado, amado e terá uma parcela de responsabilidade nessa loucura que chamamos de arte, seja cuidadoso no verso que chamamos de escrita.
“Sim, Leandro, poesia é uma coisa muito bonita!”
Você sabe, mas eu quero repetir: eu tenho sorte por ter você. Não importa como, onde, ou quando. O importante mesmo é saber que você existe em mim, e que eu existo em você. O importante mesmo é você existir e fazer parte da minha vida, me fazendo assim, absurdamente feliz. — Plenitude.
“A gente cresce ouvindo que perdão é bonito, altruísta, e de fato é, mas não precisa perdoar se você não consegue. Não tem problema nenhum ficar longe de alguém que te feriu, te humilhou ou te inferiorizou. Você precisa de saúde emocional, não de um Nobel da Paz.”
— Autor Desconhecido.
“Não te liguei mais, porque ouvir sua voz nunca mais será como ouvir a sua voz. Não te escrevo porque nada mais tem o tamanho do que eu quero dizer. Nenhum sentimento chega perto do sentimento. Nenhum ódio ou saudade ou desespero é do tamanho do que eu sinto e que não tem nome. Não sei o nome porque isso que eu sinto agora chegou antes de eu saber o que é. Acabou antes do verbo. Ficou tudo no passado antes de ser qualquer coisa.”
— Tati Bernardi.
“Quando você ler essas palavras talvez eu não esteja mais aqui. Talvez você ouça a minha voz, embargada, em silêncio. Sim, a memória preserva um som que só as lembranças mais bonitas conseguem ecoar. Eu vou estar em algum lugar entre aqui e Paris. Provavelmente em Paris. Lá é mais fácil sofrer– tomando um chá de camomille às dez da manhã, entre um bonjour e um je t´aime – sem soar estranho, sem parecer arrogante. Nas malas levarei algumas camisas dobradas, alguns poemas incompletos, aquela foto sua em preto e branco que você nunca me deu e a certeza de que tudo o que escrevi até ontem foi para que hoje o dia nascesse mais colorido e a noite dormisse mais sonhada. Queria poder te amar além das palavras, além destas palavras.”
— Eu me chamo Antônio.