Nunca me fiz de rogada, a verdade é que, antes mesmo dele eu já ansiava. Ansiava por alguém, por algo. É um tanto clichê redigir e conduzir os ideais de uma garota não tão comum que sentia não encaixar-se em um mundo tão… tão mundo, mas a verdade que pairava sobre mim é que o interno nunca foi interessante o suficiente e aprendi cedo demais que o externo era o que destacaria-se perante uma sociedade tão superficial e, sorte a minha ser tão bela. Modéstia à parte eu era ridiculamente bonita, com meus longos cabelos cor de laranja, olhos profundamente azuis, sardas que exibiam-se angelicalmente sobre as maçãs de meu rosto e contornavam delicadamente meu nariz empinado. Meu corpo? Esbelto com curvas estrategicamente postas para agradar os olhos até dos mais exigentes, mas nada disso valia-me, já que a única coisa do qual tudo isso me proporcionou foram noites longas remoendo amargamente um desastre natural das palavras não ditas àquele imbecil.
A verdade é que assustava-me a intensidade com o qual ele me olhava. Seu olhar tão impetuoso sobre mim, fazia-me queimar sobre minha própria pele e querer correr em busca de algum refúgio desconhecido que me protegesse de qualquer decepção, mas sinceramente? Não reconhecia qual.
[...]
Eu desejava tão intensamente que ele soubesse todos os pormenores que dedicava à ele, sem sequer saber que fazia por ele. Uma playlist no spotify, um livro ou outro, até mesmo minhas desventuras noturnas em meio a um gole ou outro de uma cerveja gelada concluíam-se no mesmo ritual, o de ouvir alguma música estúpida que declarasse inverdades sexuais… me lembravam ele. Não que o visse apenas dessa forma, mas CARALHOOO! Por Hades, querido!!! O que me tomou foi muito além da minha própria cerne, foi minha alma… até que comecei a protagonizar-me em cartas enormes que te escrevi e nunca as enviei. Sempre fui humilde a ponto de entender que nunca possui tino para a escrita, diferente de você, mas em meio às minhas inúmeras tentativas, te escrevi.
— b.m
Ela está vestindo aquela camiseta desbotada que tanto gosto. Sempre que me abre a porta do seu apartamento, penso que não tomarei nenhuma surpresa, mas pra ser sincero, me surpreendo todas as vezes. Disfarço a cara de homem bobo e adentro. O cheiro da pele dela me invade como se eu estivesse inspirando uma xícara de chá de camomila. Gosto de observá-la andar na frente, guiando-me para seu quarto na ponta dos pés. Eu a tomo por trás e ofego em seu pescoço. Ela se desmancha numa gargalhada sem fim. Sabe quando você espera o dia inteiro para contemplar aquele sorriso? Se ela bem soubesse, jamais parava de rir. Ela caminha para a janela enquanto prende o cabelo em formato de coque, e o deslizar dos finos dedos pela nuca e, depois, ombros, me faz ensejar conter os mesmos com os meus. Quanto pano pruma camiseta só, não me lembro de quando aprendi a ser tão paciente. Contudo, aprecio a preliminar das preliminares que é vê-la zanzar pelo quarto enquanto me conta sobre seu dia. As vezes me pergunto porque temos tão pouco tempo juntos quando, na verdade, eu poderia tê-la mais. Se ela soubesse que eu gosto dela tanto quanto ela mesma adora bacon… Não é sensato medir o afeto que sentimos por alguém. Sejamos amplos pra gostar sem medidas. E quando se trata dela, bem, o meu copo está sempre meio cheio. Ela olha para trás, eu não desvio. Ela sorri de canto, eu sorrio. Ela se aproxima como um gato à espreita e sussurra baixinho: “Está com fome? Fiz um rango com bastante bacon e fritas. Tá uma delícia!” Bacon não!!! Maldita dieta de academia. Ela então consegue fisgar uma fagulha de pensamentos meus enquanto pressiono os lábios. “Mas posso preparar outra coisa, se preferir”, ela acrescenta, e meus dentes saltam num riso frouxo. Não pelo alívio de então saber que a refeição saudável da quinta-feira a noite está garantida, mas porque a acho linda tirando do bolso uma solução. Desato os braços, preparo o abraço e ela se encaixa como luva em mim. Ela me olha nos olhos, acaricia meu nariz e com um beijo me ganha pela milionésima vez, pois todas as vezes minha resposta é a mesma. E logo hoje, que ela está perfeita vestindo a minha camiseta desbotada favorita… “Que nada, minha linda. Prefiro bacon!”
If you ever wanna fall in love If you ever wanna bet on us If you ever wanna be my one I'll be waiting
If you ever want one more night If you ever wanna make things right If you ever wanna change your mind I'll be waiting!
o teu silêncio cravado na minha boca. as tuas insanidades preenchendo os meus pulmões. as tua toxinas matando as minhas incertezas. eu te quero em cada molécula que me compõe. em cada átomo. em cada espaço. eu quero te misturar em sangue venoso e arterial. e mesmo assim ser completa. te quero na minha caixa toráxica. exalando. inspirando. expirando. eu quero te tragar. te trazer em mim. me sufocar nas tuas ausências. e me jogar no teu vazio. morrer no raso. que é te amar.
— For A.
“Dor que é dor a gente guarda por mais que doa por mais que arda Dor que é dor Carrega consigo um parceiro antigo o silêncio esmagador que traduz a dor em dor.”
— Ana Favorin, A dor a gente não grita.
Óh Sublime Heresia, vinde-a mim resgatar e amiudar seus findos pecados que vertem transgressões imundamente prazerosas ao que saciam da curiosidade genuína de te descobrir. Sublime, impetuosa, nefasta heresia, esta que adorna resquícios do que um dia exaltou castidade, mas redesenhou-se do inferno particular de minhas digitais blasfemadoras, deitando-se em gozo na cama do que possui muitos nomes. Imaculada foste, antes de se tornar minha. MINHA!
— b.m
Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
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