Ela está vestindo aquela camiseta desbotada que tanto gosto. Sempre que me abre a porta do seu apartamento, penso que não tomarei nenhuma surpresa, mas pra ser sincero, me surpreendo todas as vezes. Disfarço a cara de homem bobo e adentro. O cheiro da pele dela me invade como se eu estivesse inspirando uma xícara de chá de camomila. Gosto de observá-la andar na frente, guiando-me para seu quarto na ponta dos pés. Eu a tomo por trás e ofego em seu pescoço. Ela se desmancha numa gargalhada sem fim. Sabe quando você espera o dia inteiro para contemplar aquele sorriso? Se ela bem soubesse, jamais parava de rir. Ela caminha para a janela enquanto prende o cabelo em formato de coque, e o deslizar dos finos dedos pela nuca e, depois, ombros, me faz ensejar conter os mesmos com os meus. Quanto pano pruma camiseta só, não me lembro de quando aprendi a ser tão paciente. Contudo, aprecio a preliminar das preliminares que é vê-la zanzar pelo quarto enquanto me conta sobre seu dia. As vezes me pergunto porque temos tão pouco tempo juntos quando, na verdade, eu poderia tê-la mais. Se ela soubesse que eu gosto dela tanto quanto ela mesma adora bacon… Não é sensato medir o afeto que sentimos por alguém. Sejamos amplos pra gostar sem medidas. E quando se trata dela, bem, o meu copo está sempre meio cheio. Ela olha para trás, eu não desvio. Ela sorri de canto, eu sorrio. Ela se aproxima como um gato à espreita e sussurra baixinho: “Está com fome? Fiz um rango com bastante bacon e fritas. Tá uma delícia!” Bacon não!!! Maldita dieta de academia. Ela então consegue fisgar uma fagulha de pensamentos meus enquanto pressiono os lábios. “Mas posso preparar outra coisa, se preferir”, ela acrescenta, e meus dentes saltam num riso frouxo. Não pelo alívio de então saber que a refeição saudável da quinta-feira a noite está garantida, mas porque a acho linda tirando do bolso uma solução. Desato os braços, preparo o abraço e ela se encaixa como luva em mim. Ela me olha nos olhos, acaricia meu nariz e com um beijo me ganha pela milionésima vez, pois todas as vezes minha resposta é a mesma. E logo hoje, que ela está perfeita vestindo a minha camiseta desbotada favorita… “Que nada, minha linda. Prefiro bacon!”
ㅤEu te pediria desculpas por esse texto só pela sua cara de desapontado, mas não costumo me desculpar por ser sincera – a sinceridade é meio escrota de vez em quando, eu sei. Mas, você sabe, a verdade é sempre bem-vinda, embora algumas vezes – como agora – não passe de uma filha da puta. Senta aqui. Eu também já levei um pé na bunda. Eu disse que ele não estava preparado para uma mulher como eu. Você sabe, ele se boicotou. Essa gente tem medo de ser feliz. Depois eu pensei que ele talvez estivesse numa fase confusa ou tivesse problemas pra se relacionar. Talvez ele tivesse câncer terminal e não quisesse me machucar. Ou uma ex-namorada que me mataria se me visse com ele. É claro que ele só queria me proteger. Bem, no fim das contas, ele tinha outra. Era essa a dura e inadmissível realidade. Não havia nenhuma justificativa prévia, nenhuma explicação mirabolante: ele simplesmente não me queria. Era só um pé da bunda. Era só um cara me rejeitando do jeito mais miseravelmente simples do mundo. Então, ela também não se boicotou. Ela não está chateada porque você foi um imbecil indiferente naquela sexta-feira. Ela não está te ignorando só porque você esqueceu de parabenizá-la pessoalmente no aniversário dela. A verdade – que deve ter socado o seu estômago no exato momento em que você a descobriu – é que ela não dá a mínima. E tudo bem. Você deve saber que isso não é exatamente um atestado tácito de que você é um partido ruim – aliás, fodam-se os bons partidos. As pessoas se cruzam, se amam, se detestam ou simplesmente permanecem indiferentes e isso não é um problema nosso. É questão de conexão, do bom e velho desejo mútuo que nem sempre dá as caras. E a gente continua mascarando isso com frases clichê que até poderiam fazer parte de um “Manual de como não ser imbecil ao dispensar alguém”: “A pessoa certa no momento errado”, “Não é você, sou eu!”, “Não quero me envolver com ninguém”… Tudo isso é ladainha – uma ladainha muito elegante, confesso – de quem simplesmente não está a fim de tentar. Não existe momento errado para a pessoa certa. A vontade é que move as coisas – e as pessoas, principalmente. Então, quem não te procura simplesmente não quer te procurar, e quanto mais cedo você parar de criar teorias mirabolantes que justifiquem isso, mais cedo você estará pronto para o próximo pé na bunda – você sabe, ele sempre vem.
Não me abençoe, padre! Pois eu pequei.
Padre, você sentiu minha falta? Estive trancada por um tempo. Eu fui pega pelo que fiz, mas levei tudo em grande estilo. Descansei por todas as minhas confissões que eu trago comigo. Mas agora minha versão é muito pior. Então, estou de volta. Veja, eu irei para o inferno, Padre, eu sei. Pelos versos que eu tomei, eu vou para o inferno, pelo amor que eu vou fazer, eu vou para inferno sendo carregada pelo diabo. Você pode ouvir os sinos do casamento? Você pode. Padre, você sentiu minha falta? Não me pergunte onde estive, alias você sabe que eu sei, sim, me contaram que eu redefini o pecado e agora eu não sei o quê está me levando a colocar isso na minha cabeça, talvez eu queira poder morrer, talvez eu já esteja morta, pelas vidas que eu tomei, pelos votos que eu quebrei, pelo homem que odeio, pelo jeito que eu machuco enquanto levanto a minha saia, eu sei, Padre, eu vou para o inferno. Eu estou sentada em um trono enquanto eles estão sendo enterrados na sujeira. Por favor, me perdoe. Padre, eu não queria incomodá-lo, mas é que o diabo está em mim, Padre, ele está dentro de tudo o que faço. Pelas vidas que eu tomei, pelas leis que eu infringi, pelo homem que eu odeio, pelas mentiras que eu inventei, eu vou para o inferno. Pelo jeito que eu condescendo e nunca estendo a mão, minha arrogância está fazendo minha cabeça queimar na areia. Pelas almas que eu abandonei, eu vou para o inferno casada com o diabo. Você pode ouvir os sinos do casamento? Din, don. Eu sei que pode. Você pode, Padre, você e todos aqui presentes.
Óh Sublime Heresia, vinde-a mim resgatar e amiudar seus findos pecados que vertem transgressões imundamente prazerosas ao que saciam da curiosidade genuína de te descobrir. Sublime, impetuosa, nefasta heresia, esta que adorna resquícios do que um dia exaltou castidade, mas redesenhou-se do inferno particular de minhas digitais blasfemadoras, deitando-se em gozo na cama do que possui muitos nomes. Imaculada foste, antes de se tornar minha. MINHA!
— b.m
If you ever wanna fall in love If you ever wanna bet on us If you ever wanna be my one I'll be waiting
If you ever want one more night If you ever wanna make things right If you ever wanna change your mind I'll be waiting!
com a mesma urgência em que se busca por oxigênio após uma longa noite de transa intensa. Case-se comigo, para que eu possa apreciar uma eternidade de amores contigo, atravessando a meninice de uma adolescente apaixonada até uma senhorinha aguardando o deleite da morte após viver um amor que só você é capaz de me servir. Case-se comigo e façamos a tola promessa de nos encontrarmos nesta e nas próximas vidas, porque o clichê de te amar em apenas uma é realista demais para que eu o contemple em apenas alguns malditos e restantes anos desse século. Case-se comigo e me deixe gentilmente e dedicadamente ser o que você precisa que eu seja para além de sua.
— b.m
Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
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