Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
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If you ever wanna fall in love If you ever wanna bet on us If you ever wanna be my one I'll be waiting
If you ever want one more night If you ever wanna make things right If you ever wanna change your mind I'll be waiting!
um impulso quase febril de moldar perguntas toda vez que me atrevo a tocar tuas palavras. É que, sem jamais ter te dito — talvez por vergonha, talvez por medo de parecer tola — carrego a esperança clandestina de que cada frase me guarde em segredo, de que cada texto teu seja um sussurro disfarçado com o meu nome. Nunca tive coragem de admitir, mas meu peito se rasga em ciúmes viscerais, ferozes, doentios, egoístas, só de imaginar tuas mãos escrevendo para outra. Esse segundo que não me pertence — esse tempo que não é meu — me corrói com a fome de um amor que ainda não se nomeia.
Fala comigo, amor.
Deixe um recado.
Deixe uma pista, ainda que cifrada, em alguma canção de sentidos ocultos-desocultados, dessas que dizem tudo sem precisar dizer. Ou será preciso outra noite tua? Daquelas em que a bebida te desnuda, se torna coragem e você me busca como quem se perde e eu aproveito as migalhas sinceras do teu delírio?
Maldição.
Então escreve.
Porra, escreve outro texto, se quiser. Mas responda.
Responda aos outdoors espalhados pelas avenidas da cidade inteira: Quem é sua menina?
— b.m
eu só queria ser algo bom pra você.
“Não disse que não é amor, definitivamente é, mas eu sei que é efêmero e que o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, e mesmo que eu te amasse com todas as forças do meu corpo nem em cem anos poderia te amar tanto quanto te amei em um único dia. Talvez daqui 100 anos eu ame ainda mais, tanto, que tu já tenha se espalhado de tal forma, sendo impossível de tirar daqui do meu eu mais secreto e íntimo não como um prazer, porque eu não sou um para mim mesma, mas como o meu próprio ser existindo na sombra da tua existência, sendo apenas a metade e não meu todo. Onde não há você, não existe eu, só vazio.”
Não, não, muito cafona, apesar de sempre ter tido certa habilidade para breguices…
Nunca soube direito como se inicia um diário. Menos ainda como se começa com aquele clichê de “querido diário” — soa como se eu escrevesse para alguém, quando na verdade escrevo para mim mesma, sobre ele, é claro. Deixe-me tentar outra vez.
Querida eu, que insiste em complicar o simples…
Deixei de ser a menina dos olhos dele. Ele não disse com palavras, mas sempre tive esse talento questionável de ler silêncios e preencher as entrelinhas — um hábito cultivado que, supostamente, deveria nos proteger de corações partidos. Engraçado, não tem funcionado muito bem, confesso. Eu sei. Talvez ele também saiba. A verdade é que nosso amor se amansou. Virou aquela calmaria confortável, como a brisa fresca das manhãs que se alongam preguiçosas, com o cheiro do café recém-passado e o silêncio doce de quem aprendeu a gostar do tédio da solitude. Nosso amor, querida eu, tornou-se isso há tempos. E eu ainda teimo em chamar de amor, pois é o que sinto. Quanto a ele… talvez reste um carinho morno, uma consideração educada por tudo o que vivemos. Às vezes até, ouso pensar que o que sobra é só conveniência, talvez comodismo. Por que é isso que as pessoas fazem, não é? Voltam ao que conhecem quando a vida se torna vazia demais… ou insuportavelmente cheia. Extremos. Sou o ponto de conforto dele. E nós duas sempre achamos isso bonito, não é? Sei que você está aí, sorrindo de canto, se deliciando com a ironia, achando graça dessa nossa mania de ver poesia na melancolia. Para alguns, ser o lugar seguro de alguém pode parecer desolador, como se você deixasse de ser alguém e se tornasse apenas uma função, mas não para nós. Existe algo genuíno e poderoso em ser o que quer que ele precise. (Querida eu safada, por favor, não malicie essa maldita frase). E assim seguimos…
Pensei em escrever para Chico e Zé, perguntar o que diriam sobre esse amor tão plácido, tão… contido, para que me ajudassem a colocar em ordem essa serenidade de amar o que já não queima, mas, no fundo, sei que só estou escrevendo para mim, o que futuramente entenderei como uma carta de rememoração sobre o sentimento do que foi, o que ficou, o que mudou — e, talvez, exorcizar esse tolo medo do que ainda pode ser, enquanto peço baixinho, feito prece sussurrada para um santo que não sei o nome, que de algum jeito, nós nunca deixemos de ser a menina daqueles lindos olhos — os mais belos olhos que já vi: os dele.
— b.m
“Então você pode ficar aí, me amando do alto do seu pedestal.”
Hesitei incontáveis vezes antes de traçar a primeira palavra desta carta. Durante dias, vaguei entre pensamentos desordenados e sentimentos que se recusavam a ser domados pela linguagem. Como explicar algo que nem eu mesma compreendo? Como traduzir uma dor que me escapa toda vez que tento agarrá-la? Tenho medo de que estejamos distantes demais para que qualquer explicação faça diferença e isso me dói mais do que posso admitir. E eu lamento por isso.
Mas, Chico, ontem à noite, sonhei.
Depois de um tempo que já me parecia eterno, sonhei. Tu te lembras das minhas lamúrias constantes, da minha queixa desmedida de que apenas sabia contar os dias quando as noites me ofertavam sonhos? Pois bem, recomecei. Na noite um de 9 de fevereiro, o tempo voltou a fluir. No entanto, não me apresso em te ofertar consolo, pois o que tenho a contar não é notícia inteiramente boa. Te explico.
Eu amava, Chico.
Amava com a devoção impetuosa e incontrolável de uma menina que, desconhecendo os limites do próprio coração, atira-se ao abismo do sentir sem temor algum. Embriaguei-me no êxtase desse amor e, sem pudor ou prudência, vivi. Mergulhei nesse amor sem reservas, sem questionar, sem me proteger. Deixei que esse amor me tomasse por inteira, que me fizesse perder o medo e o juízo. Voei como quem ignora que asas também se partem. Fui feliz, Chico. Intensamente, absolutamente, irracionalmente feliz. E, por Deus, eu sentia! Em cada fibra do meu ser, em cada batida ansiosa do meu peito, eu sentia. O amor me incendiava, consumia-me até o cerne, e eu, tola, acreditei ser amada na mesma medida.
Mas a vida, essa grande ironista, reserva-nos formas brutais de provar que tudo o que acreditamos viver pode não ter passado de um sussurro efêmero no vento. Que anos podem não ser mais que fragmentos de uma ilusão mal urdida. Que todo aprendizado se desfaz ao primeiro toque de um coração ingênuo demais para guardá-lo. E, no fim, Chico, tudo se reduziu a isto: um amor juvenil, um devaneio imaturo, um delírio insustentável.
E eu, louca, acreditei.
Deixei um convite sobre a mesa dele. Escrito com calma, com letras desenhadas como se cada traço pudesse garantir o destino que eu tanto queria: “Encontre-me às duas, em frente à Duomo de Florença. Vista seu melhor terno.”
Já consegues antever o desfecho trágico, não é? Mas eu, cega na minha esperança infantil, não. Eu esperançava, Chico! E esperançava tanto que me vesti para um sonho. Escolhi meu vestido mais belo, ajeitei os cabelos com esmero, colori os lábios com a cor dele e pisei em saltos finos como se estivesse à altura da ocasião — a ocasião do meu próprio casamento.
Não me alongarei nos detalhes, pois já não sei se valeriam a pena. Mas ele veio, Chico. Ele veio. E estava belo, como eu ousara imaginar. Quisera eu poder dizer que vislumbrei a imagem de um anjo quando o vi subir os degraus da catedral. Mas não. Associar tamanha beleza a algo celestial seria heresia.
Eu sonhei, Chico.
E cada degrau que ele subia era como uma lâmina a me atravessar o peito. O tempo se dissolvia, e a dor que ali nascia parecia anterior à minha própria existência, como se eu tivesse vindo ao mundo para senti-la. Como se fosse uma sina. Como se Deus, do alto de Seu trono, observasse minha desgraça com deleite silencioso, sem intenção alguma de intervir.
Foi belo, Chico.
Tão belo que chorei.
E então acordei.
Acordei no exato instante em que a porta dos fundos se fechava, selando o destino do que nunca fora verdadeiramente nosso. Um fim tão absoluto quanto o silêncio após um último suspiro. O fim de um amor juvenil, de um verão desfeito em outono. E o que restou de tudo isso? Apenas uma carta, largada sobre a mesa ao lado da minha cama.
O papel, Chico, trazia uma caligrafia diferente da minha. Apressada, desprovida de zelo ou de qualquer vestígio de afeto. Não havia hesitação nem doçura, apenas um veredito cruel e inapelável:
“Sinto lhe decepcionar, mas não podemos nos casar! Meu coração pensou que te pertencesse, mas ele se enganou! Até nunca mais!”
E assim, Chico, acabou-se.
Com amor, sua Heresia.
— b.m
Clarice nunca esteve mais certa ao contemplar em uma única frase o que eu ansiei para nós: decifra-me ou devoro-te; com uma pequena margem de erro existente na dualidade de que fui decifrada tão lentamente e intimamente que o memorizar dos seus dedos percorrendo as entrelinhas de minhas curvas rasga-me um grito não digerido que, declara-me vencida. Eu me deixaria ser devorada silenciosamente por seus olhos, seus lábios e seus toques precisos, que ditam com uma fineza absoluta o saber do que esta fazendo. És detentor de todas as minhas sensações, todas elas são para você, sempre foram para você.
— b.m
obrigado por deixar eu me apaixonar por você, sei que não fez por querer, mas fez, e o que conta é o corpo indo dormir querendo saber das músicas que você anda ouvindo, e tá tudo bem, pois um novo nome nos pensamentos tem feito os dias mais leves, me deixando ver formas de animais em nuvens que até outro dia eram apenas nuvens, mesmo que a paixão seja coisa minha. aliás, acho ótimo que seja somente minha, ela faz um par perfeito com a solidão, é lindo o encontro, as duas passam a noite brincando de fazer poesia. e todas, absolutamente todas, são para você.
Respiro fundo e te beijo. Te beijo porque tu mereces ser beijado por todos os dias da tua vida. Te beijo e te cuido, porque tu me cuidas também, e porque me dediquei a cuidar-te desde o dia em que te amei. Acaricio teu rosto, te beijo outra vez nos olhos, na tua testa e me aplico em sentir o cheiro que se esconde debaixo dos teus cabelos. Toco o fim das tuas costas e noto toda a tua pele. Que bom é o aroma do ar que sai dos teus pulmões. Que suave é a tua mão que passeia pelas minhas costas e que só faz me trazer para mais perto de ti. Que sonho é tocar meus lábios nos teus e saber que sou tua, e que você me valoriza. Que satisfatório olhar para trás e ver a estrada que percorremos até aqui. Casa comigo agora mesmo, a cada minuto das nossas vidas, casa comigo, porque ando desesperada de tanto amor guardado dentro desse peito tão débil. Abraça meu corpo e me diz que o lado esquerdo do teu peito é só para mim. És minha segurança, o tesouro que guardo, minha vontade de permanecer aqui, viva e forte, construindo um caminho bonito para desenhar pegadas de mim e de ti, até que seja da estrada que ninguém tem a certeza se é fim.
Não me abençoe, padre! Pois eu pequei.
Padre, você sentiu minha falta? Estive trancada por um tempo. Eu fui pega pelo que fiz, mas levei tudo em grande estilo. Descansei por todas as minhas confissões que eu trago comigo. Mas agora minha versão é muito pior. Então, estou de volta. Veja, eu irei para o inferno, Padre, eu sei. Pelos versos que eu tomei, eu vou para o inferno, pelo amor que eu vou fazer, eu vou para inferno sendo carregada pelo diabo. Você pode ouvir os sinos do casamento? Você pode. Padre, você sentiu minha falta? Não me pergunte onde estive, alias você sabe que eu sei, sim, me contaram que eu redefini o pecado e agora eu não sei o quê está me levando a colocar isso na minha cabeça, talvez eu queira poder morrer, talvez eu já esteja morta, pelas vidas que eu tomei, pelos votos que eu quebrei, pelo homem que odeio, pelo jeito que eu machuco enquanto levanto a minha saia, eu sei, Padre, eu vou para o inferno. Eu estou sentada em um trono enquanto eles estão sendo enterrados na sujeira. Por favor, me perdoe. Padre, eu não queria incomodá-lo, mas é que o diabo está em mim, Padre, ele está dentro de tudo o que faço. Pelas vidas que eu tomei, pelas leis que eu infringi, pelo homem que eu odeio, pelas mentiras que eu inventei, eu vou para o inferno. Pelo jeito que eu condescendo e nunca estendo a mão, minha arrogância está fazendo minha cabeça queimar na areia. Pelas almas que eu abandonei, eu vou para o inferno casada com o diabo. Você pode ouvir os sinos do casamento? Din, don. Eu sei que pode. Você pode, Padre, você e todos aqui presentes.
"Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos [...]"
Eu vejo você em tudo!
Óh Sublime Heresia, vinde-a mim resgatar e amiudar seus findos pecados que vertem transgressões imundamente prazerosas ao que saciam da curiosidade genuína de te descobrir. Sublime, impetuosa, nefasta heresia, esta que adorna resquícios do que um dia exaltou castidade, mas redesenhou-se do inferno particular de minhas digitais blasfemadoras, deitando-se em gozo na cama do que possui muitos nomes. Imaculada foste, antes de se tornar minha. MINHA!
— b.m
Suave, Ophélia. Não há pecado em querer tua companhia em meus dias, tampouco permanecer quando você me pede para ir embora. Me deixa fazer isso, Ophélia. Você não precisa ficar, mas eu fico se você deixar.
Ela está vestindo aquela camiseta desbotada que tanto gosto. Sempre que me abre a porta do seu apartamento, penso que não tomarei nenhuma surpresa, mas pra ser sincero, me surpreendo todas as vezes. Disfarço a cara de homem bobo e adentro. O cheiro da pele dela me invade como se eu estivesse inspirando uma xícara de chá de camomila. Gosto de observá-la andar na frente, guiando-me para seu quarto na ponta dos pés. Eu a tomo por trás e ofego em seu pescoço. Ela se desmancha numa gargalhada sem fim. Sabe quando você espera o dia inteiro para contemplar aquele sorriso? Se ela bem soubesse, jamais parava de rir. Ela caminha para a janela enquanto prende o cabelo em formato de coque, e o deslizar dos finos dedos pela nuca e, depois, ombros, me faz ensejar conter os mesmos com os meus. Quanto pano pruma camiseta só, não me lembro de quando aprendi a ser tão paciente. Contudo, aprecio a preliminar das preliminares que é vê-la zanzar pelo quarto enquanto me conta sobre seu dia. As vezes me pergunto porque temos tão pouco tempo juntos quando, na verdade, eu poderia tê-la mais. Se ela soubesse que eu gosto dela tanto quanto ela mesma adora bacon… Não é sensato medir o afeto que sentimos por alguém. Sejamos amplos pra gostar sem medidas. E quando se trata dela, bem, o meu copo está sempre meio cheio. Ela olha para trás, eu não desvio. Ela sorri de canto, eu sorrio. Ela se aproxima como um gato à espreita e sussurra baixinho: “Está com fome? Fiz um rango com bastante bacon e fritas. Tá uma delícia!” Bacon não!!! Maldita dieta de academia. Ela então consegue fisgar uma fagulha de pensamentos meus enquanto pressiono os lábios. “Mas posso preparar outra coisa, se preferir”, ela acrescenta, e meus dentes saltam num riso frouxo. Não pelo alívio de então saber que a refeição saudável da quinta-feira a noite está garantida, mas porque a acho linda tirando do bolso uma solução. Desato os braços, preparo o abraço e ela se encaixa como luva em mim. Ela me olha nos olhos, acaricia meu nariz e com um beijo me ganha pela milionésima vez, pois todas as vezes minha resposta é a mesma. E logo hoje, que ela está perfeita vestindo a minha camiseta desbotada favorita… “Que nada, minha linda. Prefiro bacon!”