“Não disse que não é amor, definitivamente é, mas eu sei que é efêmero e que o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, e mesmo que eu te amasse com todas as forças do meu corpo nem em cem anos poderia te amar tanto quanto te amei em um único dia. Talvez daqui 100 anos eu ame ainda mais, tanto, que tu já tenha se espalhado de tal forma, sendo impossível de tirar daqui do meu eu mais secreto e íntimo não como um prazer, porque eu não sou um para mim mesma, mas como o meu próprio ser existindo na sombra da tua existência, sendo apenas a metade e não meu todo. Onde não há você, não existe eu, só vazio.”
Não, não, muito cafona, apesar de sempre ter tido certa habilidade para breguices…
Nunca soube direito como se inicia um diário. Menos ainda como se começa com aquele clichê de “querido diário” — soa como se eu escrevesse para alguém, quando na verdade escrevo para mim mesma, sobre ele, é claro. Deixe-me tentar outra vez.
Querida eu, que insiste em complicar o simples…
Deixei de ser a menina dos olhos dele. Ele não disse com palavras, mas sempre tive esse talento questionável de ler silêncios e preencher as entrelinhas — um hábito cultivado que, supostamente, deveria nos proteger de corações partidos. Engraçado, não tem funcionado muito bem, confesso. Eu sei. Talvez ele também saiba. A verdade é que nosso amor se amansou. Virou aquela calmaria confortável, como a brisa fresca das manhãs que se alongam preguiçosas, com o cheiro do café recém-passado e o silêncio doce de quem aprendeu a gostar do tédio da solitude. Nosso amor, querida eu, tornou-se isso há tempos. E eu ainda teimo em chamar de amor, pois é o que sinto. Quanto a ele… talvez reste um carinho morno, uma consideração educada por tudo o que vivemos. Às vezes até, ouso pensar que o que sobra é só conveniência, talvez comodismo. Por que é isso que as pessoas fazem, não é? Voltam ao que conhecem quando a vida se torna vazia demais… ou insuportavelmente cheia. Extremos. Sou o ponto de conforto dele. E nós duas sempre achamos isso bonito, não é? Sei que você está aí, sorrindo de canto, se deliciando com a ironia, achando graça dessa nossa mania de ver poesia na melancolia. Para alguns, ser o lugar seguro de alguém pode parecer desolador, como se você deixasse de ser alguém e se tornasse apenas uma função, mas não para nós. Existe algo genuíno e poderoso em ser o que quer que ele precise. (Querida eu safada, por favor, não malicie essa maldita frase). E assim seguimos…
Pensei em escrever para Chico e Zé, perguntar o que diriam sobre esse amor tão plácido, tão… contido, para que me ajudassem a colocar em ordem essa serenidade de amar o que já não queima, mas, no fundo, sei que só estou escrevendo para mim, o que futuramente entenderei como uma carta de rememoração sobre o sentimento do que foi, o que ficou, o que mudou — e, talvez, exorcizar esse tolo medo do que ainda pode ser, enquanto peço baixinho, feito prece sussurrada para um santo que não sei o nome, que de algum jeito, nós nunca deixemos de ser a menina daqueles lindos olhos — os mais belos olhos que já vi: os dele.
— b.m
Eu vejo você em tudo!
Respiro fundo e te beijo. Te beijo porque tu mereces ser beijado por todos os dias da tua vida. Te beijo e te cuido, porque tu me cuidas também, e porque me dediquei a cuidar-te desde o dia em que te amei. Acaricio teu rosto, te beijo outra vez nos olhos, na tua testa e me aplico em sentir o cheiro que se esconde debaixo dos teus cabelos. Toco o fim das tuas costas e noto toda a tua pele. Que bom é o aroma do ar que sai dos teus pulmões. Que suave é a tua mão que passeia pelas minhas costas e que só faz me trazer para mais perto de ti. Que sonho é tocar meus lábios nos teus e saber que sou tua, e que você me valoriza. Que satisfatório olhar para trás e ver a estrada que percorremos até aqui. Casa comigo agora mesmo, a cada minuto das nossas vidas, casa comigo, porque ando desesperada de tanto amor guardado dentro desse peito tão débil. Abraça meu corpo e me diz que o lado esquerdo do teu peito é só para mim. És minha segurança, o tesouro que guardo, minha vontade de permanecer aqui, viva e forte, construindo um caminho bonito para desenhar pegadas de mim e de ti, até que seja da estrada que ninguém tem a certeza se é fim.
Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
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