Débito cármico. Aquilo sim parecia mais provável que uma maldição de desamor, porque Matteo certamente estava pagando algum tipo de pecado. Imaginou que foi por todas as vezes que não prestou atenção à missa que sua mãe o levava, ou por aquela fez que viu um vídeo... Balançou a cabeça, espalhando os pensamentos. Matteo não deixou de notar a falta de resposta do outro, mas não se manteve no assunto. Sabia que não iria ganhar nenhuma resposta melhor tentando força-lo, porque ele mesmo não daria uma se estivesse no lugar de Aaron. "Não vai me dizer que está com ciúmes?" Rebateu rapidamente. Ele sabia que Aaron e Olivia haviam sido amigos quando criança, mas não sabia muito mais informações que aquilo. Não parecia ser um assunto que Olivia gostava de falar muito e ele nunca forçou. Não sabia qual havia sido o motivo, mas não era difícil pensar que Aaron poderia ter ficado... Amargo sobre o que perdeu. O julgamento não sairia dos seus lábios, mas ele não aceitaria que o outro forçasse qualquer que fosse o julgamento que ele estava fazendo na sua cabeça. "Você é apaixonado por ela ou algo assim? Eu não tenho nada com Olivia faz anos, cara." Sua vida era bem mais que Olivia. Na verdade, faziam anos que ele e Olivia não haviam mais nada, então não sabia o que despertava essa conclusão no outro. Ao contrário de Matteo, falavam que Aaron podia ser brilhante, mas talvez algumas coisas não podiam simplesmente serem ensinadas. "Alguns papéis importantes para mim voaram e foram carregados pelo fluxo do rio para lá." Ao contrário de Aaron, sua resposta era, ao menos, uma resposta de verdade, mesmo que não fosse completamente verdadeira. Ele não falaria o teor dos papéis, mas ao menos não tinha respondido com nada além de sarcasmo.
Aaron soltou um som baixo, algo entre um riso abafado e um suspiro de desdém. Girou o vinho na taça mais uma vez antes de responder. “Isso faz mais sentido,” disse, referindo-se à teoria de Matteo sobre assassinos e vítimas. “Pelo menos explicaria por que todo mundo parece tão obcecado uns pelos outros. Débito cármico ou algo assim.” Ele deixou o corpo relaxar na cadeira, inclinando levemente a cabeça ao ouvir a pergunta sobre a cachoeira. “Como todo mundo: péssimas decisões", mentiu. Levou a taça aos lábios, analisando o homem do outro lado da mesa enquanto refletia se dizia a verdade ou não. Blackwell não queria admitir que pensara ter sentido o cheio do bolo preparado por sua mãe na infância. Por algum motivo, acreditava que aquilo o deixaria...vulnerável demais. Seus olhos avaliavam Matteo com atenção, tentando entender o motivo da pergunta. “E você? O que te arrastou para lá?", estreitou os olhos, lembrando que ele tinha alguma relação com Olivia. Não tinha? "Não vai me dizer que foi por conta da Fuentes".
Ele soltou uma risada. Não esperava que Aaron tivesse qualquer senso de humor. Não que Matteo fosse conhecido pelo seu grande senso de humor, mas estava esperando mais um punhado de comentários ríspidos e sarcásticos. Pelos burburinhos, Aaron era tão conhecido por isso quanto ele era conhecido pela sua falta de vontade de conversar com os outros. "Pela diversão?" Perguntou com se não o entendesse, com uma sobrancelha levantada. "Eu estou aqui porque nosso amigo falou para eu o encontrar aqui. Eu não sabia que era um encontro." Talvez a sua resposta fosse muito defensiva, mas ele não queria que o outro ficasse pensando que ele estava indo para um encontro e, pior, com Nico. Tinha uma reputação para manter. "Eu acho que as forças cósmicas tem mais o que fazer do que decidir a minha vida amorosa," Matteo disse de forma resoluta, so contentando em dar uma resposta rasa. Com oub sem maldição, não acreditava que havia algo escrito nas estrelas, algum caminho que ele deveria seguir. Se existisse, alguém nesse universo devia odiar muito sua família, porque eles não podiam ter recebido uma mão pior para o jogo da vida. "O grupo de almas gêmeas? É mais capaz de termos sido assassinos e vítimas um do outro do que qualquer coisa romântica," comentou passageiramente, se rendendo ao copo de vinho em sua frente e tomando um gole. "Como você foi parar na cachoeira?" Perguntou.
Aaron soltou um riso curto, balançando a cabeça enquanto girava a taça de vinho que já tinha na mão. "Não, não diria isso." Levou a bebida aos lábios antes de continuar, a expressão carregada de ironia. "Mas, considerando que sua alternativa era o Nico, eu definitivamente sou um upgrade." Ele apoiou um cotovelo na mesa, observando Matteo com um interesse mais analítico agora. A cidade inteira estava obcecada com aquela história de almas gêmeas, e era interessante ver como cada um lidava com isso. Matteo, ao que parecia, estava tão cético quanto ele – o que tornava aquilo tudo um pouco mais suportável. "Mas já que tocamos no assunto," continuou, agora mais relaxado, "o que você acha dessa coisa toda? Vai fingir que não acredita e só está aqui pela diversão, ou já está começando a pensar que pode ter uma força cósmica decidindo sua vida amorosa?" A pergunta veio com um tom levemente provocativo e levemente julgador, mas sem pressão real. Apenas uma forma de medir a temperatura do encontro – e do próprio Matteo.
A hostess se aproximou da mesa com um homem que definitivamente não era quem ele esperava e estava pronto para contradizer, mas a expressão resoluta da mulher e as palavras que se succederam do homem deixou claro que ele estava onde deveria estar, por mais confuso que fosse. "Encontro?" Matteo repetiu sem entender o que estava acontecendo. Ele achou que iria encontrar o próprio amigo. Será que tinha entendido tudo errado? Óbvio que Nico estava achando graça em toda essa coisa de alma gêmea e tinha que fazer algo cômico, as suas custas. E óbvio que ele iria colocar Matteo com... Aaron? Lembrava vagamente do outro na cachoeira, mas nunca tiveram muito contato antes. A cidade é pequena e, em certo nível, todo mundo se conhece, mas além do nome e de onde o homem trabalhava, seu conhecimento sobre o outro acabava ali. Ao menos, o fato dele não saber nada sobre Aaron fazia ele ser mais provável de ser sua alma gêmea, pelo benefício da dúvida. Ainda confuso com as circunstâncias, Nico deveria ter dito as palavras de uma forma que o deixasse confuso porque saberia que se ele tivesse sugerido um encontro às cegas, Matteo jamais teria aceitado. A sua vida amorosa não era tão humilhante assim. Ele poderia ter quase todo mundo que quisesse, o problema era querer. Não era como se esperasse exatamente um grande romance, nem nada desse gênero, mas Matteo achava que não tinha tempo a perder em relacionamento vazios. Se não tinha um mínimo de excitação nesses relacionamentos, porque perderia seu tempo dando atenção para outra pessoa quanto ele mesmo precisava do seu foco total. "Matteo," disse, pegando a mão do homem e cumprimentando brevemente. Parte dele gostaria de correr, deixar todo o encontro para trás, mas toda a história de maldição o estava deixando curioso. E também estava curioso para saber o que aqueles que estavam envolvidos também achavam. "Por que eu saio no lucro? Você é uma ótima alma gêmea ou algo do tipo?" Perguntou, apertando os lábios num rápido sorriso entretido enquanto se sentava na cadeira em frente e pedia uma água com limão.
Aaron ergueu os olhos do cardápio assim que ouviu passos se aproximando. Ele já estava considerando que teria que sair dali em mais alguns minutos, só para poder dizer que tentou. Mas, ao ver quem a hostess estava guiando alguém até a sua mesa, arqueou uma sobrancelha. "Hm...Você definitivamente não é o que eu esperava." Blackwell acabou murmurando sem querer. Quando aceitou ir a um encontro às cegas no lugar de Nico Cagni — depois de perder uma aposta — jamais pensou que seu date pudesse ser um homem. Fechou o cardápio com calma e o apoiou sobre a mesa, inclinando-se ligeiramente para frente enquanto estudava o outro. Por fim, quando viu a atendente se afastar, decidiu se levantar, estendendo a mão na direção do moreno. "Aaron Blackwell, prazer". Indicando a cadeira vazia em sua frente, como um convite ao que quer que fosse aquilo, Aaron voltou a se sentar. "Sei que não sou o que você estava esperando, mas Nico não podia vir a esse encontro e pediu que eu viesse em seu lugar. Normalmente eu não faço esse tipo de coisa, mas...", deu de ombros. "Tinha uma dívida para pagar". E existem formas piores de pagar do que ir para um encontro. "Bom, já que estamos aqui, podemos pelo menos pedir algo. O vinho e a comida já estão pagos por Cagni, e eu definitivamente não vou recusar um jantar decente." Levantou um pouco a taça que já tinha em mãos e lançou um olhar divertido para o rapaz, que parecia confuso. "Bom, e considerando as opções, acho que você saiu no lucro."
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VINÍCOLA VILLA GIORDANO
Nico havia dito para encontrá-lo na Villa Giordano no fim da tarde, mas já se passaram dez minutos do horário acordado e nada do seu amigo aparecer. Normalmente, Matteo não bebia muito. O álcool era uma das piores coisas para a sua rotina de treinos, ou para sua mente afobada. Porém, nas atuais circunstâncias, uma taça de vinho, ou mesmo algo mais forte, não lhe soava mal. A pressão de atingir um nível de perfeição com sua aparência não chegava nem perto da pressão de encontrar uma alma gêmea.
Irritado que devia ter levado um bolo, Matteo tentou a última coisa possível e entrou no estabeleciment, se aproximando da hostess, "Oi," Matteo cumprimentou com brevidade, soltando o ar pesarosamente, "eu estou procurando Nico Cagni. Sabe se ele chegou?" A hostess olhou para o tablet com as reservas antes de falar para ele segui-la, levando-o para uma das mesas na parte externa.