"Vamos sentar um pouco por enquanto, então." Aproveitou que a mão dela estava estendida, por algum motivo que Anastasia não compreendeu muito bem, e a pegou para que a guiasse para um dos sofás que tinham ali. Sentou-se, meio cambaleante, sentindo o corpo afundar na espuma que, com certeza, era uma das mais confortáveis que já tinha experimentado. Era como um abraço acalentador e, por isso, não hesitou em afundar um pouco mais, pensando se deveria tomar mais um drink. Ao invés disso, decidiu encher com um pouco de Coca Diet, acreditando que seria melhor não entregar-se tanto à tentação. "Então, Kitty Cat, você está me devendo algumas explicações." Levantou dois dedos, uma vez que havia dois pontos a serem conversados. "Primeiro, como mesmo acabamos como colegas de quarto e, segundo, por onde andou? Veio com a conversa de sermos amigas quando eu estava praticamente como uma múmia na enfermaria, mas depois sumiu. Era mais consciência pesada?"
A voz de Anastasia capturou sua atenção, mas ao mesmo tempo não parecia a voz dela. Kitty se virou em direção à outra, e encontrando diferente. Havia algo diferente, não conseguia identificar o que. O olhar? As bochechas coradas? Ou as palavras que não esperava ouvir dela nem em um milhão de anos, apesar das últimas semanas? Achava que havia um certo combinado de uma possível amizade, mas com a sucessão de tragédias, sequer havia conseguido procurá-la. "Anastasia?" estendeu os braços para segurá-la caso precisasse. Não poderia deixá-la sozinha assim... e também não tinha muito o que fazer, afinal. "O que quer fazer? Quero dizer, para onde quer ir? É melhor sair de perto da beirada, não é?"
ʚ com @kittybt .
ʚ em terraços .
"Kitty Cat." A voz saiu cantarolada, já afetada pelas inúmeras margaritas que tinha tomado a luz das estrelas (ou o que eram para ser as estrelas). Fazia tempo que não via a filha de Hades, mais precisamente quando estava internada com os ferimentos terríveis no corpo após tentar protegê-la durante o ataque das furiosas pelúcias. Quando levantou, percebeu que talvez tivesse tomado até demais, mas não importava-se com aquilo: precisa de algo que lhe fizesse aproveitar o que tinha acontecido sem nenhuma preocupação. "Deveríamos fazer algo juntas enquanto estamos aqui. Aqui no resort, digo." Um sorriso alcoolizado, mas devidadamente alegre, apareceu nos lábios dela. Sentia-se energizada.
"Talvez tenha servido para não abaixarmos nossa guarda novamente. Nunca sabemos quando mais algo pode acontecer. Fomos tolos em pensar que teríamos um descanso e poderíamos ser algo além de guerreiros imbatíveis." Um sorriso de brincadeira pendeu nos lábios dela, seguido por uma careta, uma vez que o movimento de mudança de expressão fez com que um hematoma em seu rosto puxasse. Deuses, só queria que melhorasse para que pudesse ser ela novamente, destruindo bonecos de luta e treinando campistas mais novos. O cansaço batia cada vez mais forte e sentia-se mais grogue com a quantidade de ambrosia que tinham dado a ela devido à gravidade dos ferimentos. "Eu sou muito legal, para sua informação, mas Sasha sempre foi mais doce que eu. Éramos como um sour candy." A mente viajou por um segundo para aquela época em que tudo parecia mais fácil. O primeiro amor não era algo que era esquecido, mas Anastasia sequer desejava aquilo. Aproveitou a juventude amando e sendo amada, o que achava que era ideal, ainda mais para uma filha de Afrodite. Cada relacionamento que tinha seguia uma dinâmica diferente e, com Sasha, as coisas eram calmas. Fáceis. Se não tivesse as inseguranças que rodeiam a cabeça até aquele momento, talvez tivessem algum futuro. Naquela época, tratava Kitty com ainda mais estranheza e não deixava de lançar olhares aterrorizadores para ela, quando era Anastasia que estava com medo. Mesmo que ainda agisse de maneira hostil, tinha aprendido a deixar as sombras de Kitty longe de si, o que tornou a convivência mais fácil sem grunhidos e constante revirada de olhos. Até aquele momento, tinha se limitado a palavras petulantes e revirada de olhos (algo que a semideusa acreditava que não conseguia controlar, se fosse sincera). "Meu problema nunca foi não saber manter um bom relacionamento com você. Se eu quisesse, teria conseguido, mas eu nunca quis." Não havia razão para mentir naquela situação, ainda mais quando estava tão exausta. Odiou Kitty desde o primeiro momento que a viu, porque não controlava os poderes plenamente e sentia os puxões de poeira. Era como sentir os próprios pensamentos sufocados. Apertou os lábios com as palavras alheias, não tendo certeza daquilo. Não desejava ser amiga da filha de Hades, para ser sincera, ainda mais quando havia aquele puxar constante. Quanto mais passasse, mais sufocada talvez se sentisse. Era curiosa, no entanto, e desejava conhecê-la mais. "Não sou uma pessoa de amizades fáceis assim, mas acho que posso tentar não revirar os olhos toda vez que entra em algum lugar." Ofereceu com certa hesitação, já que ainda não tinha se havia algum futuro para elas.
"Eu também não lembro bem. Em um momento estava correndo e no outro, no chão. Poderia ser engraçado se não fosse trágico." Respondeu, mas dando pouca atenção as palavras porque apenas conseguia perceber como Anastasia parecia desconfortável. Kitty podia compreender, porque também odiava a enfermaria. Por um momento se perguntou se Nastya aceitaria ajuda para fugir ou acharia a ideia ridícula; era sempre Kitty a ser resgatada da enfermaria, nunca alguém que ajudava os outros a saírem. "Me importo também porque é você. Aposto que é até uma pessoa legal por baixo dessa casca de..." Sequer sabia como chamar. Desprezo? Não mais achava que era desprezada pela filha de Afrodite. Arrogância? Talvez apenas um pouco. "Acho que você deve ser legal, porque se não fosse, Sasha não teria gostado de você. Prefiro acreditar no bom gosto dele." A menção ao irmão também trazia recordações de quando a loira não havia sido tão legal ou aberta, uma decepção total para Kitty, que sempre estava ansiado por amizades. Ela queria gostar de Anastasia, queria ser próxima, mas depois de um tempo sem total abertura, apenas passou a refletir o que ela parecia emitir, a total indiferença e frieza. Havia machucado um pouco o ego de Kitty, mas fora fácil superar. "Hm, no baile..." colocou uma mão no queixo, fingindo pensar. "Estávamos falando sobre porque você nunca gostou de mim. Sempre achei que filhos de Afrodite fossem bons com relacionamentos interpessoais, mas acho que era apenas uma ideia boba minha." Deu de ombros levemente, forçando um sorriso, temendo levar alguma outra olhada mortal de Anastasia. "Tem como superar isso, se você quiser. Segundo dizem, sou uma ótima amiga. Além disso, não quer descobrir os meus segredos?" Brincou, lembrando de uma conversa ainda no bar. "Posso te contar dos meus esmaltes ou sentimentos, do que quiser. Não sou uma pessoa tão fechada assim, sabe?" Era um convite à amizade, um que Kitty desejava muito que Nastya aceitasse.
she was crying on my shoulder , all I could do was hold her , only made us closer .
w. @kittybt
Ouviu as palavras de Kitty com um misto de gratidão e desconforto. Os ferimentos, espalhados em seu corpo, eram uma consequência da coragem que tivera, impulsionada pela bebida. Estava levemente sonolenta em decorrência da quantidade de poção, o que fazia com que as sombras, mesmo presentes, não incomodassem ela como costumavam fazer. Quase apreciava a presença da outra, independente dos sentimentos conflitantes a respeito dela. Poderia culpá-la quanto quisesse, mas sabia que tinha sido sua escolha entrar na frente dela. Olhou para Kitty com uma expressão cansada, os olhos refletindo uma tristeza que não era apenas física. O corpo parecia cada vez mais pesado, mas um suspiro escapou dela. Talvez precisasse descansar ainda mais em breve. "Eu imagino. Não são todos os dias que somos atingidos por estrelas. Para ser sincera, sequer lembro quando isso aconteceu." A memória andava confusa, o que fazia também com que os filhos de Apolo ficassem ainda mais preocupados com o estado de Anastasia. O corpo permanecia cheio de bandagens, que a faziam ficar parada, algo que odiava. Queria sentir novamente o peso da espada e ensinar os campistas mais novos a empunhá-la mais facilmente. "Por que você se importaria?" Rebateu quase automaticamente, mas permaneceu em silêncio conforme escutava ela falar. Sabia que não era a melhor das pessoas com a outra, permanecendo constantemente em um estado de defensiva perto da semideusa. Talvez fosse aquele o momento de mudar aquilo e tentar entendê-la como não tinha feito anteriormente. E, mesmo que não fosse confessar em voz alta, até mesmo ansiava saber aquilo. Queria saber o porquê aquela mente era encoberta de poeira e sombras, o que tornava ela tão especial que não conseguisse adentrar ainda mais. "Eu... Entendo. De nada." As palavras soaram hesitantes, quase estranhas nos lábios, de uma forma até mesmo nervosa. Não costumava ficar daquele jeito durante conversas, sendo a que causava aquele efeito, mas culpava mais os ferimentos daquela reação, mesmo que soubesse que não era verdade. "Então, do que estávamos falando do baile mesmo antes de todo o caos mesmo?" Tentou puxar nas lembranças, porém eram mais um borrão que formas definidas. A destra, já curada, foi até a testa, coçando suavemente. Lembrava-se que desejava respondê-la do questionamento que tinha feito.
"É difícil." Respondeu, breve e seca, suspirando para tentar conter um soluço que ameaçava irromper pela garganta. Já tinha chorado demais por Flynn e tinha decidido a não derramar mais tantas lágrimas; não durante o dia, pelo menos, enquanto tentava ser uma pessoa funcional. Era conselheira de chalé. Tinha seus treinos para fazer e poções para tomar também, além de cuidar dos irmãos e verificar os amigos. "Doeu. Também foi esquisito. Nunca pensei em ser atingida por uma estrela. Mesmo para os padrões dos semideuses, parece algo estranho." Comentou, pensando que jamais olharia as estrelas de outra forma. Sempre olharia para o céu, temendo que uma estrela caísse em sua cabeça de novo. No entanto, naquele momento estava de dia e Kitty estava na enfermaria, meio sem graça ao lado de Anastasia, sem saber exatamente o que fazer ou como agradecer. "Por que você acha que não me importaria?" Indagou, virando-se para ela, um tanto na defensiva. A visão dos curativos, no entanto, rompia os muros erguidos e a levava novamente ao estágio de vulnerabilidade. "Você foi muito legal comigo. Além disso, me salvou. Você me mandou correr e por causa disso eu pude sair e ajudar outras pessoas. É muito valente. Por isso me importo com você também." Decidiu falar, honesta em suas palavras, sem conseguir olhar diretamente para Anastasia. Por muito tempo tinha apenas repelido a filha de Afrodite, replicando o comportamento que a própria parecia ter. Sempre houve algo estranho no ar, mas até aquele momento, Kitty nunca quis investigar de maneira mais profunda. "Obrigada, Anastasia."
"Meus pêsames. Tenho certeza que deve ser difícil perder algum amigo." Mesmo que não conhecesse ele, se compadecia pela perda de Kitty. É claro que, constantemente, tinham suas diferenças, principalmente pelo incômodo que sentia na própria mente quando estava perto dela. Era estranho que, ao mesmo tempo que sentia-se tão desgostosa e com raiva dela, havia aquela parte também que desejava abraçá-la e consolá-la pela perda que tivera. A filha de Hades tinha aquele tipo de energia que fazia você desejar proteger e manter, talvez a mesma que tenha feito pular na frente das pelúcias para salvá-la do destino. Não tinha arrependimentos, porém permanecia curiosa sobre o porquê as sombras que protegiam a outra pareciam flertar com a conexão que Anastasia mantinha com as outras mentes. Na menção da queda, os olhos buscaram no rosto dela os hematomas, que já estavam bem melhores. Por um momento, a invejou por aquilo; desejava mais que tudo estar naquele nível. Apenas alguns machucados que melhorariam em questão de horas ou, no máximo, dois dias. Desejou, por um momento, apertar a região para verificar se doíam e, confusa na própria mente, quase levantou a mão para seguir as ordens automáticas que a cabeça proferia. Segurou o impulso, no entanto. "Deve ter doído bastante." Não sabia ao certo o que dizer. De repente, parecia desajeitada com as palavras, culpando as poções e magias para aliviar a dor. "Você não precisa ficar aqui se não quiser. Não é como se o que aconteceu comigo importasse para você."
O não de Anastasia deixou Kitty meio desconcertada. O que deveria fazer então? Parecia não haver muitos motivos para ficar ali do lado dela, visto que sequer se davam bem. No entanto, havia algo que a compelia a permanecer, os pés firmes no chão enquanto sentia o silencio amistoso da outra pinicar sua pele. Baixou os olhos para os próprios dedos, cheios de pequenos ferimentos proporcionados pelos ursos. Deveria ir embora. Não gostava da enfermaria. Kitty abriu a boca para se despedir quando a pergunta veio, fazendo com que fechasse e abrisse novamente os lábios. "Estou." A mentira saiu alta e clara, como muitas vezes tinha repetido durante o dia. Contudo era uma péssima mentirosa, portanto suspirou, se rendendo a verdade. "Mais ou menos. O inicio do e o final do dia parecem pertencer a dois dias diferentes, tantas coisas aconteceram, boas e ruins. Acima de tudo, perdi um amigo." Parecia esquisito ressentir-se da morte quando era uma filha de Hades, mas havia um egoísmo pequeno e presente em seu peito. Flynn era seu instrutor de necromancia, algo que deveria ser natural, mas que Kitty não dominava. E agora ele havia partido sem ensinar seus segredos. Kitty não poderia mais vê-lo por causa disso, porque sem seu instrutor, não sabia invocar espíritos. Flynn, o filho de Thanatos, estava para sempre fora do alcance de Kitty. Ela, que sempre gostou de pensar em mortes gloriosas, odiou o fato de perder um amigo. "Uma estrela caiu em minha cabeça, acredita? Em algum momento eu caí também." Tocou o próprio rosto, onde sabia que os hematomas estavam clareando. "Também fiquei aqui na enfermaria, mas foram apenas algumas horas." O tom deixava explícito quão pouco apreciava o local.
Estava nervosa, porque os ferimentos não estavam caminhando para o que desejava. Esperava que fossem como os antigos: curavam em questão de, no máximo, algumas horas. Como não tinha ido para um grande número de missões, principalmente pelo medo que nutria do mundo exterior, jamais teve qualquer machucado um pouco mais profundo ou extenso. Preferia daquela forma, deixando o corpo impecável como sempre ansiou. A pele macia, os cabelos perfeitamente alinhados e a aparência intocável eram algumas das características preferidas de Anastasia sobre si. Mesmo que fossem superficiais, eram elas que faziam com que fosse facilmente identificada em meio aos campistas, garantindo alguns olhares por onde passava. Sem aquilo, não sabia o que era. Ao escutar a voz de Kitty, um turbilhão de emoções atravessou elas, como um furacão devastando o peito. Raiva, tristeza, pena... Havia tanto que sentia, ainda mais que, mesmo que inconscientemente, uma parte culpava a filha de Hades pelo estado que se encontrava. Mesmo com as poções, ela permanecia com dor, sentindo a pele repuxar nas pernas e no braço. Era humilhante pensar o quanto tinha sofrido para derrotar meras pelúcias. Os olhos levantaram-se para ela e, mesmo com todos os sentimentos que pareciam digladiar para tomar posse, havia uma certa inexpressividade e distância. Estava presa nos próprios sentimentos, no possível luto que sentiria. A esperança, aos poucos, sumia, mesmo que estivesse levemente presente nela. "Não." A palavra saiu solta, seguida de um silêncio por parte de Anastasia. Não sabia se queria falar com a semideusa, não tendo forças para resistir às sombras que salpicavam a mente da filha de Afrodite. Ela desviou o olhar para o copo de água que havia ao lado da cama, tomando um longo gole. Sequer tinha percebido que estava com sede. "Você está bem?" Não sabia ao certo se queria saber o que tinha acontecido depois que pediu para a outra ir embora.
𝐒𝐓𝐀𝐓𝐄𝐑 𝐏𝐀𝐑𝐀 @ncstya
Enfermaria.
Havia muito o que fazer e muitas pessoas a visitar, no entanto, estava evitando um pouco a enfermaria. Além de detestar o ambiente dedicado aos doentes e feridos, sentia-se um pouquinho culpada pelo que tinha acontecido com ela. E estranha. Anastasia sempre tinha sido uma figura enigmática e pouco amistosa, motivo pelo qual a relação entre ambas nunca fora grande coisa. Culpava a bebida pela quantidade de palavras trocadas e não sabia como seria depois. Poderia Nastya culpá-la por ter se machucado? Porque Kitty sabia o que tinha acontecido, estava apenas se recuperando para que pudesse visitá-la. Os olhos inchados não negavam o quanto tinha chorado e embora os hematomas fossem poucos, demonstravam sua luta. Kitty se aproximou da enfermaria e respirou fundo, entrando no ambiente e focando em Anastasia, tentando ignorar o gemido dos feridos e o cheiro de poções médicas. Ela não parecia estar em lugar algum, mas em um canto, um pouco mais afastado, identificou os inegáveis fios loiros da filha de Afrodite. O coração pareceu se apertar e diminuir no peito ao ver quão ferida estava e de repente se viu sem saber o que fazer ou dizer. "Anastasia, eu..." sinto muito? Perguntar se ela estava bem seria ridículo também. "Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? Te ajudar de alguma forma?" Imaginava que seria de algum auxílio. Estava disposta a ajudar, fosse buscar algo no chalé de Afrodite ou oferecer alguma poção.
"Na verdade, não. Mentira não é um sentimento exatamente, mas posso sentir a pessoa nervosa. O coração acelerado, as mão suando... Toda essa combinação consigo sentir. Posso supor que seja por conta de uma mentira, mas não consigo afirmar. Pode ser outras coisas, como uma dor de barriga." Deu de ombros, já que não sabia se desejava saber aquilo, de qualquer forma. Era mais fácil viver com as mentiras do que saber quando alguém não estava lhe falando a verdade. Algumas mentiras eram feitas para não serem descobertas, mesmo que pensasse que talvez Kitty estivesse chateada excessivamente com a cena que tinha visto. Desejava questionar a semideusa sobre o que se tratava, se estavam tendo algum envolvimento romântico profundo, mas, ao mesmo tempo, achava que era melhor não saber. Era mais por um anseio de saber uma fofoca do que alguma preocupação real, então manteve os lábios fechados enquanto escutava a outra falar. Não era muito do seu feito, mas talvez o álcool estivesse dando uma percepção maior do que deveria fazer. Estava prestes a respondê-la que não a odiava, apenas não gostava de mistérios. A semideusa, para Anastasia, era um dos maiores mistérios que existiam para ela. Por que aquilo acontecia somente com Kitty e não com outros? O que era aquela camada de poeira e escuridão que protegia ela dos poderes de Anastasia? Havia tanto que não sabia e gostaria de descobrir, então ser desgostosa com a filha de Hades era mais fácil do que confessar que gostaria de conhecê-la mais para que pudesse compreender quem era. Para ser sincera, até mesmo ficava assustada com aquilo. Antes, achava impossível alguém resistir às conexões mentais que realizava, porém, de alguma forma, a mente alheia parecia nutrida das próprias defensas que impedem que isso aconteça.
As palavras morreram antes que pudesse falá-las quando escutou o grito vindo de algum lugar não tão longe. Não demorou muito para que o caos se instaurasse e o coração de Anastasia começasse a bater aceleradamente contra o peito, deixando com que não soubesse exatamente o que deveria fazer. O fogo não demorou para que começasse a tomar conta do pavilhão, assim como os bichinhos de pelúcia que marchavam em direção das duas. A mão de Anastasia foi para a pulseira dourada entalhada com flores, puxando-a para que a espada, Sharp Beauty, se revelasse para que trabalhasse contra aquelas criaturas. Estava enjoada, é verdade, além dos sentidos estarem bagunçados pelo excesso de álcool que estava em seu sangue. Tinha sido tola novamente, acreditando que nada ruim aconteceria. Por algumas horas, enganou-se pensando que, finalmente, teriam um momento de felicidade e leveza, no qual poderia dançar, beber e festejar. A vida de semideuses, no entanto, não era marcada por momentos felizes e aquilo era exposto sem piedade para todos aqueles que, como a filha de Afrodite, foram ingênuos em acreditar. Não poderia permitir que pagassem por pecados que não tinham sido eles que tinham cometido. As pelúcias, que anteriormente eram adoráveis, marchavam perto delas e, tomada por um instinto de proteção, colocou-se entre elas e Kitty. A memória do pai tomou conta de Anastasia, que quase caiu de joelhos, pedindo que arrancassem aquilo dela. Havia mais a ser feito do que sentir pena de si mesma. Ela não permitiria que tirassem a vida de mais alguém, ainda mais quando ansiava conhecer a pessoa. Segurou o rosto dela por um segundo, a mão macia de Anastasia tocando a pele alheia, obrigando que os olhos se encontrassem o suficiente para que a filha de Hades visse a seriedade por trás dos olhos claros. Não saberia se conseguiria, mas daria a vantagem para Kitty. "Preciso que você vá e ajude as outras pessoas, Kitty." Não saberia se aguentaria por muito mais tempo segurar o enjoo que parecia subir em decorrência do coração que queria decolar do peito. Mesmo que não fosse corajosa, faria o suficiente para que os outros conseguissem escapar daquele caos.
Com a arma em mãos, Anastasia encarou as pelúcias, pronta para enfrentá-las.
FINALIZADO.
"Não!" Exclamou, a voz mais aguda e alta do que de costume, sem desejar que Anastasia soubesse que estava mal por causa de um homem. O último homem a partir seu coração tinha sido há praticamente dez anos. E depois havia ficado de coração partido por Stevie, mas sofrer por uma mulher que tinha sido uma amiga se configurava como uma sensação diferente no peito. Novamente sentia o coração apertado e pesado, com algo desconfortável se instalando na garganta. Tentou não focar no que estava acontecendo ali tão próximo, não quando já havia presenciado uma cena semelhante antes. Não havia desculpas. Tinha sido apenas uma tola, por isso queria apenas beber todas e se afogar em álcool. Tentou sorrir com as palavras de Anastasia, uma tentativa mal sucedida e vergonhosa. "Mentiras não valem a pena, por isso os seus poderes são incríveis. É possível saber quando alguém está mentindo? Não sei muito sobre os seus poderes." Apenas de que terminou com meu irmão por causa deles, pensou. Era próxima o bastante de Sasha para saber alguns pequenos detalhes de seus relacionamentos, de maneira que sabia porque o namoro com Anastasia tinha chegado ao fim. Não que Kitty a considerasse companhia perfeita para o irmão, mas tinha arrasado seu coração vê-lo mal. Sentia que deveria nutrir algum desafeto com ela por isso, mas estava ali, terminando seu segundo drink, incapaz de se afastar um centímetro sequer, mesmo que em seu interior houvesse ainda certa vontade de destruir a festa. "Seus poderes são muito interessantes, Anastasia, você é interes... Ah, meu estômago. É verdade!" Kitty deixou seu drink não finalizado de lado e deixou-se ser arrastada para longe dali, para longe o bastante para que não pudesse ver Aidan e Mary tão juntos. Ela sequer conseguia vê-los pela vista de dança. Portanto engoliu em seco e acompanhou Nastya, grata pela loira naquele momento.
"Você está certa, vai ser bom para o meu estômago." Sob as sombras de uma árvore grande, ainda iluminadas pelas luzes do baile, Kitty balançou sua cabeça em negativa. "Estou me sentindo estranha. Está tudo meio esquisito." Sentia como se todos os seu órgãos tivessem decidido protestar ao mesmo tempo. O coração doía, o estômago parecia embolado e os pulmões não davam conta de respirar o suficiente. Ela não sabia se era pela bebida, por Aidan, ou algo mais. Talvez tudo ao mesmo tempo, deixando com a sensação pesada no corpo inteiro, um pouco nervosa. Silenciosamente, agradecia pela mão de Anastasia ainda a sua, que parecia mantê-la presa à realidade e evitar qualquer surto. A mão quente e os dedos finos pareciam o bastante para prender seus pés ao chão, por isso decidiu focar nela e em seus segredos. Uma oportunidade que não iria se repetir, Kitty tinha certeza. Deveria aproveitar a sua chance, deixando de lado todos os nós da cabeça, deixando para depois os problemas com os quais deveria lidar. "Por que nunca gostou de mim?" Indagou, de forma direta, por fim soltando os dedos dela. "Eu sempre senti isso. Desde quando namorava o Sasha, sempre pareceu não gostar muito de mim. Mas está sendo legal agora, então não consigo entender bem." Kitty não tinha certeza se era realmente a verdade, mas era a forma como se sentia, como sempre tinha se sentido com relação a Anastasia. Temorosa por se aproximar, envolta em uma camada estranha de sentimentos poucos amistosos.
Durou apenas um segundo, mas Anastasia sentiu uma diferença de comportamento em Kitty que não estava esperando. A outra, que estava tão hesitante em beber sequer uma gota mais, tinha o virado, o que com certeza surpreendeu a filha de Afrodite, que olhou com curiosidade para ela, tentando adivinhar o que tinha acontecido. Tomada pela vontade de compreender melhor a situação, acompanhou a visão dela anteriormente, pensando que talvez tivesse visto algo chocante. Ao ver Aidan (que, se não estava enganada, viu entrar com Kitty no baile), as peças começaram a ser encaixadas, mesmo que não entendesse qual era o apelo em relação a ele. Duas mulheres bonitas querendo atenção de alguém assim era algo digno de choque para ela, já que a personalidade dele era muito duvidosa. "Você está assim por conta dele?" O tom de indignação era algo que não conseguia evitar, mesmo que tentasse evitar. As palavras saíram antes mesmo que pudesse controlá-las, sabendo que poderia irritar facilmente a filha de Hades. Não que estivesse julgando completamente as escolhas alheias, mas Aidan tinha uma reputação nada boa, então talvez fosse uma tolice acabar gostando logo dele. Sabia que aqueles assuntos não poderiam ser controlados, mas talvez fosse melhor apresentar melhores opções para a outra, mesmo que as palavras de Nastya fossem ser repletas de acidez. Talvez, bem lá no fundo, se importasse com ela.
"E você está certa. Mentiras nunca valem a pena, sempre são um poço sem fundo que acaba levando para mais mentiras." Esperava que aquilo fosse o suficiente para que Kitty desistisse daquele homem, que com certeza não valia a pena. Os olhos analisavam cuidadosamente a outra, decidindo se deveria ou não respondê-la que sim, já que parecia estar passando por um dilema interno. Mesmo que Anastasia desejasse desbravar o mundo intenso que representava a filha de Hades, não sabia se era adequado fazê-lo quando estava embebedando-se para afundar em uma alienação dos problemas. Mordeu o lábio inferior por um segundo, pensando o que deveria responder. Não era babá de qualquer pessoa, no entanto. "Acho que sim. Você merece ser mal comportada e imprudente." Perguntou-se o quanto seria necessária a sua aprovação, já que a outra já tinha pedido outro drink. Seria uma noite bem interessante, de fato, mas ainda sim um pequeno sorriso de satisfação era visível em Anastasia. Talvez finalmente obtivesse o que desejasse e conseguisse viajar pelas sombras da mente alheia facilmente se elas estivessem distraídas com o álcool presente na outra. Era um teste a ser realizado. "Quem me dera ter tanto autoconhecimento, facilitaria muito minha vida, mas não consigo controlar o que sinto." Seria confuso, no entanto, porque uma vez que mudasse os próprios sentimentos, eles não existiriam mais. Para onde iriam, por exemplo, o afeto e a felicidade? "Mas sim, consigo controlar os outros. Não consigo, por exemplo, mudar os seus pensamentos, mas a maneira como você se sente." Esperava que a outra não pedisse para que usasse algo nela, já que, devido ao álcool, não sabia o que poderia acontecer exatamente. Finalizou o próprio drink e pediu outro, só que um pouco mais forte. Quanto mais bêbada estivesse, mais fácil seria ignorar as sombras da filha de Hades tentando ela a conhecer mais. "Venha, vamos para um lugar mais silencioso. Talvez ajude no seu... Estômago." Não que se importasse com os sentimentos de Kitty (pelo menos, não que confessasse), mas seria complicado conversar com alguém que ficaria pensando no coração sendo quebrado toda vez que o olhar escapasse do dela. A mão dela segurou a da semideusa, guiando-a para um pouco longe do baile, permitindo que ambas respirassem um pouco mais facilmente e a música estivesse longe. "Então, você tem alguma pergunta para conhecer algum segredo meu?" Tentava distrair a outra das coisas que estavam acontecendo.
A menção dos esmaltes fez Kitty olhar para as próprias unhas. Geralmente não estavam feitas ou então pintadas de alguma cor como amarela ou verde. Para aquela noite, estavam apenas com uma base clara que Kitty havia encontrado no fundo de sua gaveta, bem aparadas de forma quadrada. Se a pergunta de Anastasia fosse que tipo de esmalte estava usando, estaria perdida. Kitty não saberia dizer. Por sorte, ela pareceu perguntar algo mais fácil, o que a levou a abrir um sorriso. Nunca achou que poderia ser tão fácil estar na presença dela e deu um pouco de crédito ao álcool que as envolvia, talvez até um pouco a Afrodite e sua aura apaziguadora. Estava feliz que finalmente conseguia trocar algumas palavras com ela, coisa que parecia impossível quando a loira namorava o irmão. Estava pronta para responder a pergunta simples de Anastasia quando um movimento aleatório na pista de dança chamou a atenção. Kitty sequer sabia porque tinha olhado naquela direção, atrás de Anastasia. Deveria focar apenas na mulher a sua frente, afinal, mas ela estava olhando por cima dos ombros, para Aidan e Mary dançando de maneira bem íntima.
Kitty quis causar um terremoto e afastá-los. Gritar e abrir um buraco no chão que engolisse o baile todo. Puxar os cabelos dele e lhe dar várias pedradas. Tudo o que os homens fazem é contar mentiras, pensou, sentindo a pancada de raiva e de ciúmes desconfortáveis atingir o estômago. Por um momento, quis apenas se deixar levar pela raiva, mas ao invés disso apenas pegou novamente o copo com mojito e o virou, sem se importar com a intensidade do sabor ou a forma como descia quente pela garganta. Precisava de qualquer coisa para distraí-la da cena, por isso focou nos olhos azuis de Anastasia. Azul era uma de suas cores preferidas. Decidiu então que não faria cena alguma, não era esse tipo de mulher. Estava muito acima de um homem qualquer e seu comportamento indecente e mentiroso, embora desejasse estragar o rosto dele. Portanto apenas forçou um sorriso por entre os lábios, pensando na resposta da pergunta dela, ignorando a força da fúria que ardia em seu interior. "Gosto de quando as pessoas me tratam bem e são sinceras. Não gosto de mentiras. Se forem boas comigo, sinto vontade de conversar novamente e me manter próxima." Respondeu, virando o copo novamente para as últimas gotas e pedindo mais um. "Eu deveria ser imprudente e mal comportada hoje?" Era uma pergunta mais para si mesma, no entanto, sabia que seu comportamento ruim não se resumiria a dançar sem vestido em cima de uma mesa. Kitty respirou fundo, sentindo em seu âmago pequenos tremores; a terra reagindo aos seus próprios espasmos de raiva. "Queria me sentir como você. Mesmo sem beber, me sinto cada vez mais pesada, como se tivessem pedras em meu estômago... mas não vou vomitar ou arruinar nada por aqui, não se preocupe." Queria avisar, porque não desejava que Nastya a considerasse nojenta de alguma forma. "Você consegue controlar como vai se sentir? Consegue controlar os outros também?" Deveria pedir uma intervenção da bela filha de Afrodite? O chão vibrava, ondas pequenas que apenas Kitty conseguia perceber. Apesar do que sentia, não queria arruinar o baile e ganhar a eterna antipatia de Eros e Afrodite. Aidan não merecia essa reação. Se resolveria com ele depois. Ou não. Poderia muito bem ignorá-lo pelo rosto de seus dias. Quando o outro mojito chegou, Kitty não hesitou em levá-los aos lábios. "Obrigada por isso. Parecia que você estava adivinhando que eu precisaria de algo forte hoje." Deixaria seu surto para outro momento, por ora, apenas aproveitaria da companhia enigmática de Anastasia.
Encontrou os olhos escuros alheios, pensativa a questão do que poderia ser perguntado. Tantas opções e nenhuma parecia ser suficiente. Um suspiro exasperado escapou dela, que sentia-se frustrada pelos pensamentos estarem tão enevoados em decorrência do álcool. Perdeu-se, por um segundo, nas orbes escuras e naquelas sombras que a chamavam para aceitá-las constantemente. Piscou como se tentasse recobrar a consciência, afastando-se um pouco mais da outra. Ela era perigosa, muito perigosa. "Nah, mal nos conhecemos. Nem teria por onde começar. Quando eu souber dos seus segredos, vou querer conhecer os mais profundos e não qual é o nome do esmalte que você usa." Revirou os olhos, como se fosse algo absurdo de ser perguntado. Se fosse outra pessoa, Anastasia provavelmente se satisfaria com o básico, sabendo apenas apenas aspectos superficiais da vida de Kitty. No entanto, sempre ficava intrigada com a barreira que parecia afastá-la toda vez, então queria saber mais, muito mais. Talvez esse fosse um dos motivos que estava permitindo que aquela conversa durasse tanto sem as suas frases ríspidas e desinteressadas pela irmã do ex-namorado. "Vamos começar por algo básico, então, o que me diz?" Apertou os lábios, refletindo sobre qual das perguntas mais básicas deveria começar. "Já sei: o que mais te interessa em uma pessoa? Não só romanticamente ou sexualmente, mas o que faz com que queira conversar com alguém novamente." Como uma filha de Afrodite, era viciada em saber mais sobre interesses e amores, platônicos ou não. Já tinha visto a filha de Hades conversando com vários campistas, que apreciavam a companhia alheia, mas não sabia se ela verdadeiramente apreciava estar com aquelas pessoas. Tsc, odiava não saber de algo.
"Você é esse tipo de bêbada, então. Essa noite, no entanto, é propícia de tomar decisões imprudentes, você não acha? Você deveria se entregar à sensação." Realmente ansiava em ver um novo lado de Kitty que não tinha encontrado ainda, por isso continuava a incentivando a tomar mais um gole da bebida. Anastasia sabia que, no final do seu drink, encontraria ainda mais felicidade do que estava sentindo. "Por favor, não se comporte, Kitty. Se não, serei a única fazendo escolhas ruins." Um sorriso apareceu nos lábios dela, convidativos, e o olhar deslizou para o copo dela que tinha sido recusado pela morena. "Oh, eu, ao contrário de você, fico mais leve. As coisas param de importar tanto assim. Sinto como se fosse capaz de fazer qualquer coisa que eu anseie." Não era uma pessoa comedida, mas, com certeza, desejava constantemente a aprovação dos outros, o que impedia que não fizesse absolutamente tudo o que ansiava. Pela sua imagem como instrutora, geralmente impedia-se de cometer alguns absurdos que passavam pela sua cabeça. Se Kitty também se entregasse à bebida, talvez pudesse cometer alguns deles juntas, o que seria muito divertido. "Uma sensação que pode ser tanto boa quanto ruim. Depende do que eu vá querer." Uma pequena risada saiu de Anastasia, que bebericou mais um gole da bebida.
Nunca tinha se dedicado a pensar demais nas diferenças de emoções, embora Kitty sempre tenha pensado muito em si mesma e em suas maneiras de sentir. Se conhecia bem o suficiente quanto a isso, afinal, no entanto, as palavras de Anastasia acenderam uma nova curiosidade, algo no que pensar e mantê-la acordada antes de dormir. "Não sei se entendo, mas obrigada por me falar isso. Algo novo no que pensar." Contou, dando uma rápida espiada no corpo deixado de lado. Agora que os lábios haviam se acostumado com o gosto, sentia-se tentada a provar novamente. No entanto não fez nenhum gesto para pegá-lo, mantendo sua atenção concentrada na loira à sua frente. "Você pode me perguntar, é sério." Deixou de lado a parte dos segredos, porque é claro que tinha, mas ousaria Nastya tocar em temas tão sombrios quando a noite estava tão bonita? Quando elas próprias estavam etéreas? No entanto, ao ser questionada sobre o seu estado bêbada, Kitty riu e colocou uma das mãos no rosto, como se envergonhada. "Fiquei bêbada poucas vezes, quando ainda era uma adolescente que vez ou outra queria sair do acampamento. Acho que foram duas ou três vezes?" Por fim tirou a mão do rosto, encarando os olhos claros de Nastya. "De qualquer forma, esse vestido é muito bonito para que eu queira arrancá-lo em cima de uma mesa qualquer. Afrodite me mataria por estragar o baile, não é? Eu me transformo, Anastasia. Não sou tão tímida, mas me torno mais desinibida. Pretendo me comportar essa noite." Por isso, apesar do convite saboroso que a bebida oferecia, ainda a deixou de lado. "E você? Não é afetada pelo álcool?"
"Pode até ser, mas até dentre as sensações das emoções existem diferenças. Mesmo que eu consiga entendê-las mais facilmente, não existe um padrão, por exemplo, de felicidade ou amor. A forma como você sente amor não é a mesma forma como eu sinto amor, entende?" Entendia o que Kitty desejava dizer, mas decifrar emoções era diferente de decifrar pessoas. Quando lia as emoções alheias, mesmo que não intencionalmente, elas carregavam muito sobre a forma como os outros permitiam sentir, ainda mais quando elas misturavam-se a ponto de não saber onde cada uma começava e a outra terminava. Não sabia muito bem como explicar, mas já tinha observado casos onde a felicidade carregava culpa e a tristeza carregava apreciação. Na maioria das vezes, havia mais complexidade do que simplesmente o preto no branco. Observou a outra tomar um drink da bebida, um sorriso aparecendo nos lábios ao perceber que talvez fosse um pouco forte demais para o que estivesse esperando. Não que tivesse problemas com álcool, mas Anastasia já estava acostumada com o sabor e as diferenciações, mesmo que continuasse não apreciando, por exemplo, whisky e suas variações em drinks. "Posso perguntar qualquer coisa? Eu tomaria cuidado com isso. Todos nós temos segredos." Os olhos delas brilharam com aquela nova opção, pensando que poderia ser o suficiente para que pudesse provocar alguma reação que não era tão comum na filha de Hades. "Já? Mas você tomou poucos goles. Como você é bêbada? Agora quero saber."
O som das unhas de Anastasia chamaram atenção de Kitty, que olhou para as unhas, os dedos e então para o rosto dela, confusa. "Não acho torturante. A maioria das pessoas passa por isso todos os dias. Nunca sabemos o que o outro está pensando ou sentindo. Por isso as pessoas são interessantes, porque precisamos desvendá-las." Comentou, mas apesar de discordar dela, tentou se imaginar sem seus poderes. A geocinese fazia parte de seu ser. A ligação com a terra a acompanhava a todo momento, uma ligação sem fim. Era capaz de sentir tudo através do solo e imaginava que perderia um sentido se não fosse mais possível sentir. Havia um desequilíbrio se não pudesse mais contar com seu poder, então Kitty se curvou em direção à loira, um sorriso começando a aparecer em seus lábios. "Vamos, o que quer saber? Pode me perguntar, não tenho segredos." Bem, tinha alguns, mas não achava que Nastya se aproximaria deles. Parecia improvável. Kitty levou o drink a boca novamente, ignorando a piscada dela que a fez corar. Conseguiu ingerir sem fazer uma careta, o que considerou como uma vitória. Ainda assim, sentia o líquido quente pela garganta, arranhando de maneira desconfortável. Kitty até bateu as taças com ela e tomou mais um pouco, porém decidiu que três goles eram o suficiente. O bastante. Forte demais para o seu gosto delicado, portanto empurrou o drink de lado, balançando a cabeça. "Acho que é o bastante para mim. Já experimentei, não quero ficar bêbada. Não vai querer que eu fique bêbada do seu lado." Havia ficado uma vez só, uma lembrança lamentável que não pretendia repetir de maneira alguma, ainda mais em um baile elegante.