Os olhos preocupados voltaram-se para ele, pensando o que o outro estava vivenciando em sua mente para que desejasse ficar acordado. Não poderia julgá-lo, no entanto, uma vez que Anastasia permanecia escolhendo não ser atormentada pelos erros do passado. Parecia que estava revivendo constantemente aquele cenário e, com a revelação de Maxime, parecia que estava em um constante estado de enjoo. Fechar os olhos era pedir para ver o rosto do irmão nas pelúcias, quase como ele tivesse desejado que aquilo acontecesse. O irmão que abraçou, consolou e com quem brigou. Com quem tinha entrado em inúmeras competições bestas apenas para expressarem o carinho que tinham um pelo outro. "Eu entendo. Estão sendo tão ruins assim ultimamente?" Talvez, se escutasse o semideus escutar, esquecesse dos próprios problemas. Um suspiro pesado escapou dela. Santiago era uma das únicas pessoas que poderiam compreender a confusão tempestuosa que passava pela sua cabeça. Lembrava-se quando ainda eram jovens e quando era constantemente atormentada pela memória que envolvia o pai. Chegava de fininho até a cama dele, dormindo ao seu lado apenas para que se sentisse um pouco mais reconfortada. Ele entendia o quanto tinha custado da Lee para a memória se tornar mais suportável. Lembrava-se de acordar com os olhos marejados e ser confortada por Santiago. Era simplesmente fácil estar perto do filho de Bóreas, algo que apenas ele conseguia produzir nela. Não era uma surpresa que tinham se aproximado tão facilmente quando vivenciaram a missão no passado.
Ao mesmo tempo que sabia que Maxime tinha feito tudo aquilo, havia uma parte de si que desejava que não fosse apenas isso. Queria conversar com ele para compreender se tinha mais algum motivo por trás das ações. Talvez tivesse sido influenciado por alguma magia que não conheciam. Era impossível alguém que amava tanto ter feito aquilo por vontade própria, sem nenhuma influência. O irmão que conhecia não permitiria que Anastasia fosse tão gravemente ferida. A mão tocou, inconscientemente, a marca que agora adornava o rosto, sendo um resquício de quando foi atacada durante o baile. "Sim." A confissão saiu em voz baixa, aproximando-se ainda mais de Santiago. Era um tanto óbvio que aquilo aconteceria, ainda mais com o desenrolar dos acontecimentos. "O que aconteceu com Hécate... Tinha bastante relação com o meu pai, sabe? Fazia tempo que eu não pensava tanto nisso. E agora com Maxime..." Mordeu o lábio inferior, incapaz de expressar em palavras o que estava sentindo. Havia visto alguns olhares serem direcionados a ela durante o dia, quase como acusatórios. Provavelmente pensavam que Anastasia tinha algo relacionado com isso, que sua cicatriz tinha sido forjada e que era uma das responsáveis pelo que tinha acontecido. "Parece que tem muito acontecendo ao mesmo tempo." O coração dela permanecia acelerado conforme falava. Só de pensar em tudo que estavam passando... Aquilo a enchia de pensamentos negativos, assim como um enjoo que a acompanhava constantemente. Tinha medo que voltasse a ser como era quando tinha chegado ali. Emocionalmente caótica. Sequer percebeu quando uma lágrima escorreu dos olhos, totalmente solitária no rosto delicado. Limpou rapidamente, esperando que o outro não tivesse visto aquilo. "Desculpe, acabei monopolizando a conversa." Uma risada fraca saiu dos lábios dela.
Ao acordar encharcado de suor com o retorno do mais novo pesadelo recorrente, Santiago decidiu que o Chalé 36 estava abafado demais naquela noite em particular. Decidido a ignorar as mensagens cuidadosamente elaboradas pelo seu inconsciente, saiu à procura de ar fresco e distrações – qualquer coisa que o permitisse parar de pensar. Contemplou nadar no lago sob a luz da lua mas, com a fraca iluminação, não sabia exatamente o que iria encontrar sob a superfície da água. Vagando pelo acampamento sem rumo, seus passos acabaram por levá-lo até o observatório, onde talvez pudesse ler seu futuro nas estrelas e se decepcionar. Foi pego de surpresa ao encontrar uma silhueta feminina recortada contra a luz baixa e, ao ouvir sua exclamação exasperada, prontamente reconheceu a figura como Anastasia. Seus ombros relaxaram visivelmente com a companhia, quase como se a raiz de todos os seus problemas fosse estar sozinho. Fez o seu melhor para manter seus olhos na direção geral em que encontraria os dela, ignorando o que quer que a amiga trajava sob o robe. “Eu não esperava encontrar ninguém aqui.” Admitiu, por muito que houvesse alívio em sua voz por ter cruzado o caminho dela. “Eu nunca durmo muito bem.” Explicou, dando de ombros com o peso de quem há muito se havia habituado. Sua insônia crônica não era exatamente novidade, mas era irônico que a estivesse preferindo à alternativa ultimamente. “Dessa vez eu peguei no sono, mas preferia ter ficado acordado.” Acrescentou conforme se escorava contra a parede, a alusão aos sonhos perturbadores sendo o melhor que conseguia fazer. “Eles voltaram?” Perguntou em voz quase quieta, sem sentir a necessidade de dizer a palavra em voz alta. Pesadelos, como os seus. Por mais egoísta que fosse, encontrava certo conforto em saber que não era o único os enfrentando.
[ 📩 sms to zev ] : calma, calma, não vamos nos precipitar em nos estressarmos por conta disso
[ 📩 sms to zev ] : o que ela falou?
[ 📩 sms to zev ] : e o que você falou?
📩 ZEV para TASSIA: desculpa a demora, eu tava meio ocupada, mas cheguei
📩 ZEV para TASSIA: então... O que rolou é que eu e a Vik nos desentendemos. Eu desconfiei dos poderes dela, aquele lance todo de manipular névoa, e em troca ela falou algumas coisas absurdas, principalmente sobre o Max, e isso me pegou um pouquinho
📩 ZEV para TASSIA: por isso mandei aquelas mensagens desesperadas ontem à tarde, eu tava bem, só tava me sentindo mal porque ela veio me chamar pra conversar e as coisas desandaram mais
📩 ZEV para TASSIA: agora eu tô me sentindo mal porque falei coisas horríveis pro Max porque a Vik enfiou um monte de coisa na minha cabeça. Meu cérebro vai EXPLODIR
@ncstya
Uma mensagem de Íris para você: "O que você sabe sobre as criaturas e os perigos que vivem no submundo? Como você se prepararia para enfrentá-los?"
Pensou por um momento, tentando se lembrar de todos os ensinamentos que teve quando era mais nova. É claro que, recentemente, também tiveram o pequeno acidente (se é que poderia chamar assim) envolvendo o Cão Infernal, o que fazia com que os diversos monstros viessem em sua mente. "O submundo é um lugar cheio de sombras, onde criaturas nascidas do medo e do desespero reinam. As ameaças podem ser inúmeras, desde cães infernais até espíritos vingativos, cada um mais perigoso que o outro. Esses seres são movidos pelo medo." Para ela, o cuidado em enfrentar cada criatura era onde estava a sabedoria que tanto pedia para Atena quando sabia que algo aconteceria. Mais do que habilidade em combate, era necessário também ter conhecimento do que poderia esperar por ela no Submundo. "Para combatê-los corretamente, conhecer bem o inimigo e antecipar seus movimentos é essencial. Toda criatura viva segue um padrão de ataque, até mesmo nós." Mesmo que tentasse ser imprevisível em um campo de batalha, todos possuíam padrões. Os movimentos poderiam ser espaçados e bem pensados, mas, eventualmente, acabaria imitando algo que tinha visto ou treinado. O mesmo servia para as criaturas infernais. "E, claro, enfrentaria cada perigo com coragem e confiança. O importante é sempre ter um plano em mente do que fazer, não apenas sair atacando sem motivo. Cada passo conta, cada movimento conta."
Já tinha visto o Santiago irritado anteriormente, principalmente devido à convivência que tiveram ao longo dos anos. A amizade deles tinha sido fortalecida por conta daquele vínculo, sabendo que ambos podiam confiar um no outro, independente do que acontecesse. O afastar do outro fez com que o peito doesse, sabendo que tinha errado assim que viu a expressão no rosto alheio. Sabia que não era fácil, mas talvez fosse por melhor. No entanto, se aquele era o caso, não deveria estar se sentindo melhor? A ausência da mão alheia, um gesto que era tão natural para eles, parecia criar mais uma barreira entre os dois. Não queria perdê-lo, mas, naquele momento, parecia inevitável. Sentia-se uma tola por ter se permitido chegar tão longe, ainda mais quando havia tanto a se perder. Tinha prometido, no fim do último relacionamento, que não desejava passar por aquilo novamente. Os olhares magoados, as palavras cheias de rancor... Não deveria afetá-la novamente. Anastasia tinha colocado em sua mente que era quebrada demais para permitir ter afeto daquela forma. Ainda assim, estava ela ali, na mesma posição em que pediu aos deuses para não colocá-la novamente. O medo fazia com que o bolo na garganta se formasse.
Abriu a boca e a fechou novamente, sem saber ao certo o que dizer. Então, permitiu que ela abrisse, porém nenhum som foi produzido. Estava desnorteada com as palavras alheias. A proximidade dele, quando estava sentindo a respiração alheia contra o próprio rosto, foi a tortura que não esperava enfrentar, ainda mais quando absorvia os sentimentos que a inundavam. Era incapaz de enfrentar aquele tormento quando estavam tão perto. Ao olhar diretamente para ele, no entanto, via a mágoa contida, muito além das palavras. Não precisava entrar em sua mente facilmente para compreender aqueles sentimentos. Fechou os olhos, absorvendo cada aroma, cada golpe, cada emoção. Talvez merecesse isso, tinha sido egoísta de novo, mesmo quando prometeu que não o faria. Quando ele fez o mesmo gesto que tinha feito anteriormente, quando estavam no ofurô, o cenho dela franziu suavemente, sendo invadida pela preocupação novamente. Não buscaria pela mente dele; sabia que encontraria aquela barreira que conheceu e desaprovou. Queria saber mais, mas não estava em posição de questioná-lo sobre o assunto. Deu um passo como se quisesse ajudá-lo, a mão levantando em instinto, mas sabia que Santiago não queria sua proximidade. Talvez isso a magoasse ainda mais: saber que não poderia simplesmente abraçá-lo até que aquilo não fosse mais um problema. "Não estou me justificando." As palavras saíram de forma hesitante, sabendo que era um péssimo começo para o que estava prestes a dizer. "Você acha que é simples para mim?" A voz dela saiu mais baixa do que queria, quase um sussurro, mas carregada de emoção. "Eu sou um caos, Santiago. Não quero que você tenha que enfrentar isso, porque nem mesma eu sei como fazer." Mordeu o lábio, enfrentando novamente o bolo que se formava na garganta. Tinha lutado contra si mesma durante toda a vida: quando o pai morreu, quando vivenciaram a primeira missão, quando foi ferida tão gravemente que o rosto continha aquela maldita cicatriz.
"Nunca foi minha intenção que você se sentisse assim." Era difícil encará-lo naquele momento, mas Anastasia fazia o melhor que podia. As palavras saíam tropeçadas da sua boca, como se temesse perdê-las a qualquer momento. Mesmo que tivesse a intenção de que se afastassem durante o tempo que ficou sumida, parecia que tornou toda a situação ainda mais difícil de ser explicada. Para ela, fazia todo sentido, já que seria mais fácil. Era uma grande medrosa naquele aspecto. Sabia que era uma desistente, mas não confessaria em voz alta. "Pelos deuses, acho que me importo tanto com você que dói." Controlou a vontade de segurar na mão dele, para que compreendesse através dos gestos a intensidade do significado dele para ela. "Nunca quis que você sentisse que eu não me importava com você, que eu estivesse brincando com você ou te torturando para o meu próprio prazer." Ele era a sua família. Mais do que qualquer coisa que eram ou que poderiam ser, não ansiava que ele fosse apenas passageiro. Precisava que ele ficasse, mas, ainda assim, parecia egoísta da sua parte falar que queria aquilo. Santiago merecia mais do que Anastasia. Foi quando decidiu agachar-se em frente à poltrona em que ele estava sentado, permitindo que os olhares se encontrassem novamente. "Me afastei porque pensei que seria mais fácil. Que, se eu desaparecesse por um tempo, você poderia viver sem o peso do que eu sou e do que eu não posso ser." Tinha dificuldades em enfrentar os problemas verdadeiramente. Poderia ser uma lutadora exímia, mas continuava batalhando com os demais problemas. Os relacionamentos antigos tinham demonstrado o quanto era difícil ter que enfrentar as consequências do poder e, acima de tudo, a realidade da própria mente, que parecia a vontade de pregar peças constantes em si.
O encaixar da mão de Anastasia na sua foi quente e familiar. Mesmo com toda a mágoa e a animosidade que vinha alimentando, não podia mentir a si mesmo: tinha poucos confortos em sua vida, e aquele era o único que persistia até então. A pele delgada na sua, tão perto e tão longe–em outra situação, o toque por si só o teria feito relaxar, mas naquela em particular seus ombros se enrijeceram em resposta. Talvez fosse por isso que o dilacerasse tanto sentir a distância que se abria entre os dois como um abismo, quando as meras migalhas de afeto que coletava em momentos furtivos como aquele eram mais que suficientes. Nunca havia se permitido pedir por mais, e o pouco que tomava para si ainda era mais do que ela estava disposta a ofertar. Entendia, pois nada tinha a oferecer em retorno, mas não sabia como o aceitar.
Seria tão fácil a puxar para si. Tão fácil calar suas mil e uma dúvidas com um beijo–mas então viriam as perguntas e a incerteza, e o silencioso amaldiçoado lhe roubaria até mesmo o pouco que agora era nada, pois nunca seria capaz de dizer as três palavrinhas usadas desde que o mundo era mundo para explicar o que sentia por ela.
Afastou os dígitos dos dela como se estivessem em chamas, pois não podia se dar ao luxo de a querer com tanto afinco quando a sentia prestes a descartá-lo. Como em resposta ao que sentia, a brisa gelada do Norte soprou por entre a janela entreaberta, um sinal que ela saberia ler porque o o conhecia como ninguém: estava tentando e falhando em se controlar. ʿ Agora você quer conversar ? ʾ Questionou, o tom afiado como uma lâmina ao se permitir estacar onde estava. Seria fácil interpretá-lo de maneira errada, escolher rotular o destempero como raiva e o colocar na mesma caixa de sempre, mas o gelo em seus olhos pareceu derreter quando por fim se permitiu a encarar. ʿ No. You don't get to do that. ʾ A informou quase em uma acusação, pronto para deixar claro o quão insignificante ela o havia feito sentir ao ignorar sua existência mesmo com todas as tentativas de se reaproximar. ʿ 'Confusão' não é justificativa para me jogar no lixo como um brinquedo quebrado. ʾ Prosseguiu, dando um passo e outro na sua direção, se inclinando para diminuir a diferença de altura até que seus narizes estavam a centímetros de se tocar. ʿ O que caralhos tem de tão confuso afinal ? ʾ A amargura na pergunta era palpável, pois lhe doía a ver permitir que a incerteza a respeito do que quer que fosse afetasse a única constância com a qual sempre haviam contado: um com o outro. ʿ You're not the only one who's suffering. You don't get to torture me for sport when you know... ʾ Pareceu tropeçar nas próprias palavras, interrompido pela dor lancinante que vinha toda vez que sentia seu coração empedrar–censurado pela deusa do amor, que se divertia ao castigá-lo. Anastasia não sabia, não realmente–não fazia ideia de como ele se sentia, e Santiago nunca lhe poderia contar. Levou a mão ao peito como se atingido por um golpe invisível, e recuou até se apoiar sobre o braço da poltrona vazia, parecendo quase impossível se manter de pé sempre que a maldição decidia lhe visitar.
Aceitou sua derrota e se acomodou de volta no assento, a respiração acelerada pouco fazendo para ajudar a encher seus pulmões de oxigênio quando mal parecia capaz de fazer o próprio peito subir e descer. Mesmo com a dor lhe partindo, tentou lhe dizer com o olhar tudo o que não podia o fazer com palavras. Se ela estava confusa, só o que tinha a oferecer em resposta era a certeza de quem sabia, desde a primeira risada que lhe roubara, que sua presença se havia tornado uma necessidade tão básica quanto o ar. ʿ You don't get to ask how I'm doing after you've shown me how little you care. ʾ Foi o melhor que conseguiu dizer, o mais próximo da verdade que era capaz de chegar. A voz foi quase um sussurro, como se envergonhado ao pronunciá-lo pois significava admitir, de maneira incontestável, que tudo o que queria era saber que ela se importava.
Estava exatamente como ela o havia deixado na última vez que estiveram juntos: Sozinho e ferido. Já não tinha como o ocultar.
"Na verdade, não. Estou realizando a prevenção de crise. Não sabe como foi da última vez." Ainda lembra-se de como teve que aliviar os sentimentos de Joseph para que o fardo tornasse um pouco mais suportável. Geralmente, não acatava pedidos como aqueles, mas lembrava-se de sentir e concordar em ajudá-lo naquele momento diferente. É claro que Yasemin não sabia, uma vez que ela tinha sido a causadora daquela dor. Não julgava ela, já que tinha feito o que considerava certo naquela época; até mesmo a admirava, uma vez que tinha que ter determinação para insistir em suas escolhas, independente do que fossem. Anastasia, de qualquer forma, era uma pessoa protetora, o que também traduzia na amizade com Joseph. "Mas se você realmente acredita que é só curiosidade, mesmo que sim, tenha uma parte disso, você não me conhece para achar que eu viria encher o seu saco ao invés do dele diretamente e, também, não conhece Joseph o suficiente para achar que ele faria amizade com alguém que se importa somente com fofoca e não o bem-estar dele." Não estava irritada, na verdade, mesmo que as frases pudessem soar dessa forma. Colheria as migalhas caso aquela relação deles desse errado, mas esperava não precisar fazer aquilo. Tomou mais um gole de água, sentindo-se mais sóbria depois de vários drinks. Descansar e comer um pouco realmente faziam milagres. "Vocês deveriam se divertir, nunca sabemos o que pode acontecer ultimamente." Mas não pensaria nisso, de qualquer forma. Se algo acontecesse, sobraria para a Anastasia do futuro (dali dois dias, já que no próximo estaria de ressaca). "E você também parece melhor. Está linda, inclusive."
Yasemin passou por situações questionáveis ao longo do dia. De maneira literal já que o tempo todo os amigos tentaram criar um clima romântico entre eles, isso quando alguém não chegava questionando a natureza da relação deles. Ela meio que perdeu as contas de quantas vezes isso aconteceu num único dia. Ela pegou sua taça de vinho e a virou de uma vez quando ouviu aquela pergunta e todas as outras que vieram em seguida, segurando a garrafa de vinho de um autômato que passava e colocava em sua mesa, enchendo a taça novamente. ❝ ― Vem cá... Não acha que está sendo intrometida demais não? ❞ — Questionou de maneira sincera e direta, finalmente pousando seus olhos em Anastasia.
❝ ― É complicado. ❞ — Yasemin por fim acabou falando, soltando um longo suspiro enquanto abaixava a cabeça para seu prato, pegando um pedaço de Kebab, algo que remetia a sua terra natal e levando a boca. A ruiva fitou seu par ao longe enquanto mastigava, pensando exatamente no que falar para a semideusa ao seu lado. ❝ ― De qualquer forma, está tudo bem. Estamos nos divertindo hoje depois de semanas e mais semanas sofrendo no acampamento. ❞
"Meu poder não é exatamente o mais útil nessas situações." Era muito mais fácil prever o que aconteceria quando sentia os puxões de mentes alheias, insistindo para que lesse o que estava sentindo. Não que estivesse assustada, mas parecia que os instintos estavam tão aflorados para que se preparasse caso algo que não esperava fosse acontecer. Sentia os pelos eriçados escutando os gritos e a cabeça parecia impossibilitada de focar em qualquer coisa que não fosse os horrores que aconteciam ao redor deles. Anastasia, no entanto, não era medrosa, mesmo que houvesse aquele estigma criado sobre os filhos de Afrodite. Continuava com a cabeça erguida, mesmo que a mão estivesse brincando com a pulseira como se, em qualquer momento, ela fosse se tornar útil. Mordeu o lábio suavemente com o flerte alheio e, por mais que desejasse retribuir, o corpo permanecia em completa tensão devido ao ambiente ao redor. Estar fora do Acampamento Meio-Sangue fazia com que o coração batesse mais acelerado e a mente não funcionasse perfeitamente. "Você precisará mais que isso se quiser prová-la em algum momento, Bakirci." Mesmo que a voz combinasse com o tom provocativo, não demorou muito para que a atenção fosse roubada por um pirata de cabeça para baixo que apareceu subitamente em sua visão. Sentiu ele antes mesmo que ele aparecesse, mas deu um passo para trás, quase puxando a espada. "Deuses. Esse lugar é terrível mesmo."
𝐰𝐢𝐭𝐡: @ncstya
𝐰𝐡𝐞𝐫𝐞: Queen Circe’s Revenge
"guess I’m good for nothing at all"
Tinha que confessar: o Queen Circe's Revenge não parecia de todo mau. Para quem era obcecado por relíquias, o navio era um verdadeiro chamariz desde o primeiro momento em que colocou os pés na ilha, ele só não queria ir até lá enquanto estivesse cheio demais. A possibilidade de que encontrasse tesouros no lugar era mínima; mais parecia com uma armadilha de Circe para atrair homens desavisados e aprisioná-los. Ainda assim, lá estava ele, aproveitando o sol poente para se dirigir até lá. Além disso, a deusa havia prometido uma trégua por aqueles dias, não tinha? Se algo acontecesse, Nastya testemunharia, já que ele a tinha convidado para o passeio, mesmo que aquele, de longe, não fosse o ambiente mais adequado para uma filha de Afrodite. ' Crise de consciência agora? ' arqueou uma das sobrancelhas na direção dela, com divertimento, sem se abalar com a afirmação. ' Eu poderia fazer uma lista, mas então, nunca chegaríamos àquele navio. A começar por essa boca bonita... Você é muito boa só a exibindo '
Uma risadinha saiu dela, mesmo que inconscientemente. Ele era tão previsível não querendo ser chamado daquela forma que fazia com que a filha de Afrodite quisesse apenas chamá-lo daquela forma, esperando alguma carga elétrica escapar. Pendeu a cabeça para o lado, achando um pouco de graça da situação que se encontravam. "Sem graça? Prefere que eu te chame como? Rayray?" Um tom de zombaria se fez presente na fala de Anastasia, assim como um sorriso de canto que fortalecia a expressividade dela. Sentia falta das provocações trocadas com o outro, assim como da intensidade que os acompanhava constantemente. Tinha sido sua decisão, no entanto, colocar um fim em tudo. Era melhor assim, já que não sabia se estava constantemente o manipulando para que a amasse inconscientemente. Esse seria, talvez para sempre, a maior fonte de incerteza que carregava no peito: será que permitiria amar um dia verdadeiramente? Teve um vislumbre daquilo com o outro, mas não permitiu viver por muito tempo. “Não te afeta?” O sorriso alargou-se ainda mais, sabendo que poderia facilmente aquilo não ser mais verdade. A destra foi habilmente para o colarinho alheio, desamassando com concentração o tecido, mantendo os olhos fixos nos dele. Mesmo quando estava de acordo com os padrões de Afrodite, Anastasia permaneceu brincando com o tecido, apenas em uma leve provocação. Mesmo que não namorassem mais, não aceitava que não tinha mais efeito sobre o semideus, então faria de tudo para que obtivesse alguma reação que aprovasse o suficiente. “Veremos sobre isso.” A frase era carregada de desafio, assim como uma provocação inerente. Gostava de ser desafiada, sendo naturalmente competitiva, e Raynar parecia trazer isso à tona. Lembrava-se dos momentos do relacionamento que, mesmo carregados de carinho, havia aquela intensidade que era tão familiar entre os dois. Eram por lembranças como aquela que continuava conversando com o outro, mesmo sabendo que deveria simplesmente ignorá-lo e seguir com a vida, sabendo que poderia ter cometido um erro. Afastou-se dele, tomando um longo gole da bebida, não importando-se em parecer elegante ou bonita, como geralmente fazia. Com o álcool no sangue, talvez tornasse a interação um pouco mais fácil. “Você acha mesmo que eu escolheria alguém que eu não tenho o mínimo de afeto ao invés de destruir relacionamentos alheios aqui?” A brincadeira saiu facilmente dela, mesmo que tivesse um fundo de verdade. “E você é muito melodramático por estar se chamando de vítima. Poderia muito bem virar e ir embora, mas continua aqui.” O que parecia bem óbvio para Anastasia, que sorriu provocativamente para ele. Ainda sim, que o outro se fizesse de vítima o quanto quisesse se isso ajudasse ele a dormir melhor de noite. Talvez o teatrinho fosse ajudá-lo a aceitar melhor a presença dela. “Você sabe muito bem que adora conversar comigo, amor.” Tomou o resto do drink, pensando se deveria pedir outro. Os pés já estavam começando a estar leves, assim como a cabeça levemente propensa a tomar péssimas decisões, mas talvez fosse o que estivesse precisando naquela noite.
Os olhos azuis reviraram nas órbitas e caíram na silhueta alheia, a respiração saindo forçada pelo nariz. “ 🗲 ━━ ◤ Se é isso que vai fazer você dormir à noite, quem sou eu para quebrar a ilusão? ◢ Aquela provocação constante de Anastasia era melhor do que qualquer lugar ou pessoa daquele Baile. Trazia uma familiaridade tão bom que a irritação manteve-se baixinha, o suficiente para que as respostas continuassem vindo. “ 🗲 ━━ ◤ Amor. Desculpe. Esqueci de usar o apelidinho sem graça. ◢ E aquele limite ele não passaria. O término rondava na parte de trás da cabeça, uma memória vívida e contida pelo tempo que se sucedeu. Raynar sentia a garganta coçar com o tom mais alto, a discussão entre eles e os dedos apontados. Ah, como tinham sido. O agora ainda com gostinho de passado, mas sem a cobrança invisível de explicação por poderes que não tinham sido usados. “ 🗲 ━━ ◤ Não? Então não vai mudar nada. Isso não mais me afeta, schnucki. ◢ Bom, tinha uma última tentativa antes de desistir de vez de conseguir algo para beber. Dionísio passava por perto quando Raynar levantou a voz num tom bem irritado. “ 🗲 ━━ ◤ Que seja! Se não consigo uma bebida aqui, melhor mesmo é deixar você falando sozinha. ◢ Surpreso, a bebida foi entregue com alguns segundos de diferença. E pelo cheiro, o deus do vinho não estava para brincadeira. “ 🗲 ━━ ◤ Obrigado pela dica. Ser como você, às vezes, dá resultados positivos. Agora, mate minha curiosidade: você tem alguém para pegar no pé? Não posso ser a vítima escolhida por ter vindo sozinha. ◢
O cenho franziu-se quase automaticamente assim que ele levantou. A preocupação em relação ao outro foi a primeira coisa que veio em sua mente. Por força do hábito, permitiu que as garras se movessem em direção à mente alheia, tentando estabelecer a conexão a que já estava acostumada. Diferente de anteriormente, fazia intencionalmente, buscando procurar resposta para as perguntas que começavam a aparecer estampadas na sua expressão. Por mais que tentasse focar, no entanto, sentia-se caindo em um limbo sem ter algo para se segurar. Era como se a cabeça alheia não fosse nada além de uma imensidão vazia. Os sentimentos que flutuavam para Anastasia combinavam-se com a mais pura confusão, uma vez que não entendia o que estava acontecendo e as tentativas de buscar mais sobre estavam sendo frustradas. Pensou em ir atrás do amigo para verificar se estava bem, mas alguma coisa a manteve no lugar. Talvez ele estivesse procurando distância de Anastasia, mas por que ele faria isso? A probabilidade fez com que ficasse enjoada por um segundo. Tinha ido longe demais? Os planos que estavam fazendo, as ideias que tiveram juntos... Para Santiago, podiam não ter algum significado relevante e, por isso, tinha levantado sem nenhuma hesitação. Era difícil para Anastasia, no entanto, aceitar aquilo. Mesmo que acreditasse que o amor que sentia fosse platônico e agarrava-se naquilo para que não permitisse que se tornasse algo que pudesse perder, não deixou de olhar para a água quente sem ter certeza do que fazer.
Abriu os lábios, pensando em se desculpar, já que tinha sido uma ideia tola sequer perguntar sobre aquilo. Sentia-se pequena, de alguma forma, então apenas assentiu quando falou a respeito de tirar a máscara. Sabia que tinha mais que Santiago não contava, mas não ousou desviar o olhar enquanto movimentava a água com os dedos, fingindo brincar com ela como se não se importasse. Para Anastasia, era difícil se não importar, movida constantemente pelas suas emoções. Havia uma parte dela relacionada com a mágoa, mesmo que não ousasse falar aquilo. Seria injusto com o amigo sequer manter aquele sentimento negativo, já que não era culpa dele. Nem sabia o porquê ao certo estava chateada. Não é como se ele tivesse feito algo errado. "Certo." Limitou-se em uma simples palavra, esperando que Santiago não notasse a própria mudança de comportamento. Droga, sentia-se ridícula com aquela situação, uma adolescente emburrava que não estava entendendo o que estava acontecendo consigo mesma. Fazia tempo que não conseguia ler um ambiente. Afundou-se um pouco mais na água, evitando o contato visual.
A retomada de assunto fez com que a mente precisasse diminuir a velocidade com que trabalhava naquele momento. "Sim, acho que talvez acabe morando por lá se não acabar surtando de paranoia." Uma risada saiu dela, mesmo que não estivesse sendo preenchida pelo humor que normalmente tinha. Mesmo que estivesse tentando fingir que tudo estava normal, não se sentia daquela maneira. Parecia que uma parte de si estava pressionando o peito e tornava incapaz sequer de respirar corretamente. A mágoa talvez tivesse tomando, aos poucos, o lugar do que era aquela leveza que estava sentindo anteriormente. Se um dia morasse em Paris, Anastasia gostaria de seguir o sonho que tinha abandonado por medo. Estava cansada de temer o amanhã ou o dia depois. Hecate, mesmo que de forma involuntária e cruel, tinha mostrado para a semideusa um lado que tinha prontamente evitado. Não queria recuar mais e fingir que estava completamente feliz. Amava o Acampamento, mas fazia tempo que queria mais do que simplesmente lutar para sobreviver. A vida inteira foi assim. Queria poesia e músicas de romance e dançar embaixo da chuva e rir até que a barriga doesse e tudo mais que fizesse com que se sentisse viva. Quando estava encostada no amigo, comentando sobre um futuro que poderia existir dentre uma das outras milhões de possibilidades, os anseios se tornaram mais palpáveis por um momento do que apenas ilusões que a mente produzia. Ao escutar o outro comentar sobre não ser capaz de deixar o lugar, os olhos finalmente levantaram-se para o semideus. "Você também, sabe? Talvez você não se imagine em outro lugar, porque, no final, não tinha para o que voltar." A sugestão saiu dos lábios antes que pudesse falar e arrependeu-se imediatamente assim que as palavras escaparam.
De súbito sentiu que precisava de espaço, de distância, de ar. A proximidade entre os dois pareceu sufocá-lo, como se o pesar de seu coração tornasse difícil de respirar. Lá estava, o lembrete do qual tanto fugia, e que seu melhor fazia para ignorar sempre que vinha à superfície. Talvez fosse a maneira como Anastasia o olhava, talvez fosse a conversa sobre um futuro que ao mesmo tempo o incluía – não sabia o que o havia causado, só o que sabia era que precisava o fazer parar. Afastou-se sem maiores avisos, saltando para fora do ofurô que dividiam como se a água estivesse fervendo, tateando em busca do roupão e o cruzando diante do peito. Ali manteve sua mão na esperança de se controlar. Não era real, lembrou a si mesmo pelo que devia ser a milionésima vez, e ainda assim era como se pudesse sentir a rocha a se espalhar. Chegara demasiado perto de outra maneira que não a literal, e a maldição de Afrodite o veio cobrar.
ʿ Vou lavar a máscara. ʾ Foi a explicação meia-boca que a ofereceu, dando-lhe as costas em direção a pia para que ela não o pudesse encarar. Cada palavra não dita estampava seu rosto, como se em um idioma que só ele entendia ao olhar no espelho. Há muito deixara de esperar que alguém o fosse capaz de decifrar. Deixou que a água gelada acalmasse seus ânimos em contraste mas, onde segundos antes suas peles se haviam tocado, jurava ainda sentir o calor a se alastrar.
Não sabia como preencher o silêncio quando havia tanto que queria e não podia falar. Quando por fim voltou-se para ela, o fez pelas beiradas, sentando-se na cadeira porque manter-se longe era a melhor resposta que tinha a dar. Talvez tornasse seus planos mais fáceis, afinal: menos uma pessoa a deixar para trás quando o Acampamento fosse só uma lembrança. Sabia, de maneira irrevogável, que ela havia nascido para coisa melhor que aquele lugar. ʿ Um romance escrito Paris seria uma história e tanto. ʾ Comentou em reverência, o coração empedrado por não o poder protagonizar. ʿ Não é bobeira. ʾ A assegurou, e foi preciso fazer um esforço consciente para não estender a mão e a tocar. Não sabia a consolar de outra maneira, e as palavras pareciam quase vazias em comparação. ʿ Você merece mais do que isso. ʾ A assegurou, gesticulando de maneira ampla a indicar tudo o que os cercava, incluindo no placar não só os joguinhos divinos que os haviam trazido até ali, mas a si mesmo. ʿ Já eu não consigo me ver em outro lugar. ʾ Confessou, e havia certa vergonha na fala: já o havia tentado antes, e não fora capaz de sustentar. Saíra em suas andanças, era verdade, mas sempre havia encontrado conforto em ter um lugar para o qual voltar. De maneira trágica, o Acampamento era o mais próximo que alguma vez tivera de um lar. Talvez fosse aquele o pior de seus impasses: nada mais queria do que ganhar o mundo, mas duvidava da própria capacidade de o encarar.
Ainda não precisavam confrontar aquela e outras verdades. Por ora, caminhavam ombro a ombro rumo à encruzilhada da vida, de onde diferentes estradas os iriam levar.
FLASHBACK . Observou a movimentação do outro, permitindo que um sorriso divertido aparecesse nos lábios dela. Isso fazia com que lembrasse de como era o relacionamento dos dois quando estavam juntos, uma vez que Raynar, mesmo com todo o seu jeito rude e todo movido a heroísmos, sempre fazia questão de fazê-la se sentir confortável. Assim que sentiu o calçado envolver o pé, todos os comentários sobre ser uma Cinderela sumiram de sua cabeça. "Ok, meu príncipe encantado de 2 metros. Não duvidarei mais da sua capacidade." Mesmo que a voz permanecesse divertida, sentindo-se mais leve do que se sentira há muito tempo, havia também uma leve tonalidade de flerte, inevitável para a filha de Afrodite. A amizade (se é que poderia chamar assim) tinha crescido aos poucos desde o momento que dividiram aquela cama no chalé de Zeus e de forma não maliciosa, o que era uma novidade e tanto tratando-se dos dois. Uma memória ou outra permanecia um pouco mais vívida, mas tentava ao máximo não sucumbir a nenhuma tentação, principalmente quando olhava para ele ajoelhado aos seus pés, o que fez com que mordesse o lábio por um milésimo de segundo com alguma lembrança que o envolvia a chamando pelo seu nome. É claro que pensou em recusar a sugestão alheia para não parecer fraca de alguma forma. Talvez até com o tom de arrogância a que estava acostumada. Anastasia, no entanto, estava naquele processo lento e torturante de ser uma pessoa melhor e mais receptiva. "Certo, mas não é porque eu vou me afogar ou algo do tipo." Usou a mão dele para que descesse sem nenhum problema, mesmo que tivesse escorregado suavemente no último degrau. O corpo vacilou por um momento e o coração parou por um segundo antes de sentir o corpo não sofrer tanto impacto, uma vez que a água auxiliou. "Ops." Foi o que limitou a dizer, com um leve sorriso envergonhado.
Raynar fechou a cara para a ex-namorada sem ter medo de assustá-la. Se alguém conhecia suas expressões, ela era uma das únicas. Ele respirou fundo, revirando os olhos. “ 🗲 ━━ ◤ Não estou sendo desrespeitoso, só simplista. Visitar corais não pode ser maré alta e- Vou repetir o discurso toda da filha de Circe. ◢ Desceu para um joelho, depois o outro; sentando-se sobre as próprias pernas. Não pela falta de equilíbrio, mas porque ficava mais perto dos pés dela daquela maneira. Delicadamente, exagerando na atuação de príncipe encantado, ele passou o primeiro calçado no pé dela. “ 🗲 ━━ ◤ Eu preciso responder? ◢ O amor pela vida do filho de Zeus era tão forte quanto o de conhecer o pai e isso não era segredo. Quando terminou de calçá-la, os ombros arriaram. “ 🗲 ━━ ◤ Eu de pé ainda vou ficar com a cabeça para fora do mar. Um colete mais me atrapalharia do que qualquer outra coisa. ◢ Ele colocou as mãos no peito, uma de cada lado, e a medida foi posta ao lado do colete mais próximo. Raynar era grande demais. Sem preder tempo, encontrou a escada e desceu, o mar o recebendo bem para variar. “ 🗲 ━━ ◤ Pode segurar em mim, subalterna. ◢
Mesmo que tivesse percebido a movimentação alheia, quando tentou se movimentar, bloqueando o ataque, pensou lento demais, o que resultou no braço sendo imobilizado. Golpe baixo? Não, Anastasia adorava uma boa luta sem regras, já que era ciente de que, na vida real, coisas como honra e moral eram fantasiosas demais para contar com isso. Ao escutá-lo, um sorriso provocativo apareceu nos lábios dela, os olhos brilhando com o desafio proposto. Se havia algo que apreciava, era encontrar alguém que tratava cada treino como se fossem situações reais, levando-a a pensar em novas soluções. Mesmo que fosse uma instrutora, apreciava treinar com semideuses que compreendiam do assunto. Sabia que, independente do que fizesse com os braços ou as pernas, poderia não ser o suficiente para se desvencilhar do outro. "You're bold, flower boy." A voz continha humor, mas, ao mesmo tempo, animação por estar naquela situação. Poderia ser um pouco maluco demais dela, mas gostava da sensação do coração batendo acelerado contra o peito, a boca seca e os pensamentos que pareciam correr desenfreadamente, buscando soluções. Quando houve a condição alheia, no entanto, fingiu chateação. Não que pretendesse entrar na mente alheia, mas sempre havia aquela incitação do poder de realizá-lo constantemente. Perguntou-se, por um momento, como seriam as emoções alheias. "Sem poder mágico? Com eles é tão mais divertido, mas imagino que não seria uma visão muito agradável colocá-lo para chorar nessa situação." Imaginava o quão decepcionante seria ele, segurando ela e, no próximo segundo, as lágrimas escorrendo pelo rosto alheio. Mesmo que gostasse de se vangloriar, sabia que não seria algo que gostaria de fazer de forma tão voluntária. "Você acha que preciso das minhas pernas e dos meus braços para fazer você me soltar?" Deu um sorrisinho, que muitos achavam irritantes, em direção a ele. A expressão continha a arrogância inerte da filha de Afrodite, algo que, mesmo que não se orgulhasse, aparecia quando estava empunhando uma espada. Emanava confiança, fosse na linguagem corporal ou na forma com que encarava o rosto do filho de Deméter. Aproximou-se o suficiente da orelha alheia, mais estendendo o pescoço do que fazendo qualquer esforço com o tronco ou o braço que permanecia preso, esperando que ele não previsse o que estava prestes a fazer. "Oh, você me subestima. Não sei se você sabe, mas eu sei ser bem criativa." A voz não passou de um sussurro, sendo perceptível que o sorriso arrogante permanecesse imutável nos lábios dela.
Antes que ele pudesse pensar, os olhos dela desceram rapidamente e, em questão de milésimos de segundo, a boca encontrou a curva do braço que a segurava e do pescoço. A mordida fechou com muito mais força do que estava acostumada, os caninos afundando na pele sem nenhuma gentileza, sentindo a pele resistir e o gosto de suor invadir. Quando pôde sentir o metalizado tomar lugar, mesmo que suavemente (o que não era muito agradável, mas sequer estava pensando direito e esperava não ter deixado uma marca muito forte), imaginando que estava doendo o suficiente, o joelho encontrou o meio das pernas do Gutiérrez com força, conseguindo, enfim, a liberação da mão. "Talvez seja porque sou filha de Afrodite, mas sou particularmente uma grande fã de mordidas. Elas costumam ser mais leves que isso, no entanto." Misturava a brincadeira e a arrogância na voz, não tendo exatamente pena do outro. Afastou-se para pegar um pequeno saco de gelo, no entanto. Mesmo que não fosse exatamente o maior exemplo de empatia naquelas situações, sabia como provavelmente a mordida poderia estar doendo. A sensação gelada talvez melhorasse. "Aqui, você deve estar dolorido." Encostou o saco na região, esperando que ele não a odiasse tanto por aquilo. "Espero que você não fique com uma marca, mas pense pelo lado positivo... Tenho certeza de que vai fazer com que você pareça mais desejado." Piscou para o homem de forma brincalhona, olhando para a região enquanto levantava o saco para dar uma breve checada. É, talvez fosse necessário passar um pouco de bálsamo mais tarde.
E ali estava o resultado que ele tanto buscava. Se antes ela havia demonstrado certa habilidade, agora Diego sentia uma energia ainda mais intensa fluindo entre os dois. Um sorriso travesso surgiu nos lábios avermelhados do semideus, que prontamente, com a katana em mãos, assumiu a mesma posição que a semideusa. Ele era mais lento, mas tinha astúcia e, de certo modo, mais experiência. Mas não podia subestimá-la. Jamais faria isso. Não tão cedo. Sem avisar, ele avançou, e a lâmina da katana encontrou a dela, produzindo o conhecido tintilar do metal. Antes que ela recuasse para um novo ataque — talvez apelando para um golpe baixo, seu habitual recurso infalível — Diego segurou a mão que empunhava a arma, aplicando força suficiente para fazê-la soltar a lâmina. Como não obteve uma resposta imediata, ele a agarrou pelo tronco, afastando o braço que ainda segurava a lâmina, mantendo-a fora de alcance. Se Anastasia conseguisse se desvencilhar, ele estaria em sérios apuros. "Antes que proteste, a luta nunca é justa. Você sabe disso; é habilidosa demais para se enganar," o filho de Deméter insistiu, apertando ainda mais a mão dela. "Vamos imaginar uma situação: um monstro, mais ou menos da sua estatura, mas milhões de anos mais experiente que você, conseguiu imobilizá-la... O que faria a seguir? E, antes que pense nisso, sem usar poderes mágicos." A outra mão que a segurava pelo tronco impedia movimentos mais bruscos. Diego queria uma reação racional, mas ao mesmo tempo espontânea. Monstros, deuses, grandes heróis... nunca lutavam com justiça. Era sobreviver ou perecer. Não havia outra opção. "Estou à sua mercê. Suas pernas estão livres, mas se tentar usá-las de uma vez, vai se arrepender. Se usar a mão livre, só vai desperdiçar energia. Vamos lá, bonitinha!" provocou, o sorriso crescendo ainda mais em seu rosto.