o teu silêncio cravado na minha boca. as tuas insanidades preenchendo os meus pulmões. as tua toxinas matando as minhas incertezas. eu te quero em cada molécula que me compõe. em cada átomo. em cada espaço. eu quero te misturar em sangue venoso e arterial. e mesmo assim ser completa. te quero na minha caixa toráxica. exalando. inspirando. expirando. eu quero te tragar. te trazer em mim. me sufocar nas tuas ausências. e me jogar no teu vazio. morrer no raso. que é te amar.
— For A.
Perdoe-me, padre, pois eu pequei. Pequei ao conhecer o diabo e chamar por ele. Eu o vi, padre, olhei em seus olhos, deixe-me ser encantada por ele. Eu desejei por ele e intimamente, passei a querer que ele me desejasse também. Perdoe-me, padre, por ignorar o chamado divino, ajoelhar-me como uma santa e orar por graças, enquanto sentia-me ser abençoada pelo espírito e, ao invés disso, eu toquei-me com sofreguidão nas noites solitárias pensando em como ele me pegaria forte por trás e sussurraria as depravações que faria comigo durante as luas cheias, roubando-me a pureza, maculando-me a fé e fazendo de mim uma profana. Eu tentei, padre, manter-me casta aos olhos do pai, mas aquele cujo a intensidade no olhar que devoravam-me todas as vezes que via-me em um corredor ou outro, foi demais para mim, que nada sei, além de querê-lo dentro de mim, preenchendo-me impiedosamente, como uma vagabunda. Perdoe-me padre, por dar ouvidos ao diabo que sorria sedutoramente enquanto chamava-me de coelhinha. Coelhinha, padre, porque para ele, eu era a maldita presa, deleitando-me nas inverdades que ele segredava á mim quando acusava-me de ser ardilosa; a serpente do Éden, criando em mim a falsa sensação de ser perigosa, quando na verdade Eva era minha verdadeira face. Mas eu enganei-me, padre, enganei-me para me sustentar em uma crença que já não mais existia, e para entender que, eu acabara de me despir imoralmente libidinosa e dançar devassamente ao altar do Diabo, enquanto entregava a ele minh'alma.
— b.m
"Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos [...]"
Escrevo-lhe. Desculpe-me por minha impaciência, mas durante um ano inteiro estive inebriada de esperança; acaso sou culpada de não poder agora suportar sequer um dia de dúvida? Agora que o senhor chegou, talvez já tenha mudado suas intenções. Sendo, assim, esta carta lhe dirá que eu não me queixo nem o culpo. Não o culpo por não ter domínio sobre o seu coração; este é o meu destino!
Sou ampla e pesada. E você, pequeno. Em mim há uma profundeza e nela possui uma bagagem e tanto. E você, raso, aparentemente forte, mas fraco. Talvez me aguente transbordando por mais alguns dias, ou minutos. Mas não por uma vida inteira.
Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
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