Ophélia era adjetivo de problemas, carregando todos os seus piores significados inescrupulosos. Tão dissimuladamente doce, com aqueles olhos amendoados, profundos, frios e calculistas que revelavam o suficiente para aliciá-lo a mergulhar na imensidão obscura do que ela poderia oferecer, fazendo pouco caso de sua autopreservação e que descomplicadamente transfiguravam-se em suas perturbações noturnas, - feitio libidinoso a ser enfatizado, da raiz até a alma, meu caro. E aquele sorriso? Oh, deuses! Aquele sorriso encantadoramente devastador, que faziam jus aos lábios carnudos e aos longos cabelos pretos que viviam sempre bem arrumados, exalando um bálsamo natural de cidreiras; ou seria a pele? Pele límpida e embranquecida, tão macia, que sintonizava-se as curvas acentuadas de seu pequeno e esbelto corpo, desenhados pelas mãos do diabo. Favorite du Diable. Era como eu a reconhecia. Totalmente compreensível. Ela viveu há tanto tempo presa á correntes, sendo doutrinada, que hoje, em seu auge, tornou-se um espírito livre, tão fodidamente pecaminoso. Difícil pensar em Ophélia e não assimilá-la a um inferno particular, onde se é atormentado visceralmente, para repetir tudo de novo, de novo e, de novo e mais uma vez. E por que? Tudo que se vê nela é arranjado para aguilhoar, meu pobre homem. Como não querê-la? Como não desejá-la em seus simples detalhes? Um frenesi doentilmente banhado a regalo. Um caos. Maldito caos que só se fazia ambicionar mais, descontroladamente progressivo. Ela, ouso dizer, era uma filha da puta das mais cretinas, uma força inarrável da natureza. Arrebatadora. Tornava-se uma obsessão contínua, após algumas doses homeopáticas. Isso fazia parte de um todo. Ela era única e deixava você ser também, mesmo que isto lhe assustasse. No entanto valia a pena, mesmo que doesse, e doía, mas só no começo.
— b.m
Respiro fundo e te beijo. Te beijo porque tu mereces ser beijado por todos os dias da tua vida. Te beijo e te cuido, porque tu me cuidas também, e porque me dediquei a cuidar-te desde o dia em que te amei. Acaricio teu rosto, te beijo outra vez nos olhos, na tua testa e me aplico em sentir o cheiro que se esconde debaixo dos teus cabelos. Toco o fim das tuas costas e noto toda a tua pele. Que bom é o aroma do ar que sai dos teus pulmões. Que suave é a tua mão que passeia pelas minhas costas e que só faz me trazer para mais perto de ti. Que sonho é tocar meus lábios nos teus e saber que sou tua, e que você me valoriza. Que satisfatório olhar para trás e ver a estrada que percorremos até aqui. Casa comigo agora mesmo, a cada minuto das nossas vidas, casa comigo, porque ando desesperada de tanto amor guardado dentro desse peito tão débil. Abraça meu corpo e me diz que o lado esquerdo do teu peito é só para mim. És minha segurança, o tesouro que guardo, minha vontade de permanecer aqui, viva e forte, construindo um caminho bonito para desenhar pegadas de mim e de ti, até que seja da estrada que ninguém tem a certeza se é fim.
Ela está vestindo aquela camiseta desbotada que tanto gosto. Sempre que me abre a porta do seu apartamento, penso que não tomarei nenhuma surpresa, mas pra ser sincero, me surpreendo todas as vezes. Disfarço a cara de homem bobo e adentro. O cheiro da pele dela me invade como se eu estivesse inspirando uma xícara de chá de camomila. Gosto de observá-la andar na frente, guiando-me para seu quarto na ponta dos pés. Eu a tomo por trás e ofego em seu pescoço. Ela se desmancha numa gargalhada sem fim. Sabe quando você espera o dia inteiro para contemplar aquele sorriso? Se ela bem soubesse, jamais parava de rir. Ela caminha para a janela enquanto prende o cabelo em formato de coque, e o deslizar dos finos dedos pela nuca e, depois, ombros, me faz ensejar conter os mesmos com os meus. Quanto pano pruma camiseta só, não me lembro de quando aprendi a ser tão paciente. Contudo, aprecio a preliminar das preliminares que é vê-la zanzar pelo quarto enquanto me conta sobre seu dia. As vezes me pergunto porque temos tão pouco tempo juntos quando, na verdade, eu poderia tê-la mais. Se ela soubesse que eu gosto dela tanto quanto ela mesma adora bacon… Não é sensato medir o afeto que sentimos por alguém. Sejamos amplos pra gostar sem medidas. E quando se trata dela, bem, o meu copo está sempre meio cheio. Ela olha para trás, eu não desvio. Ela sorri de canto, eu sorrio. Ela se aproxima como um gato à espreita e sussurra baixinho: “Está com fome? Fiz um rango com bastante bacon e fritas. Tá uma delícia!” Bacon não!!! Maldita dieta de academia. Ela então consegue fisgar uma fagulha de pensamentos meus enquanto pressiono os lábios. “Mas posso preparar outra coisa, se preferir”, ela acrescenta, e meus dentes saltam num riso frouxo. Não pelo alívio de então saber que a refeição saudável da quinta-feira a noite está garantida, mas porque a acho linda tirando do bolso uma solução. Desato os braços, preparo o abraço e ela se encaixa como luva em mim. Ela me olha nos olhos, acaricia meu nariz e com um beijo me ganha pela milionésima vez, pois todas as vezes minha resposta é a mesma. E logo hoje, que ela está perfeita vestindo a minha camiseta desbotada favorita… “Que nada, minha linda. Prefiro bacon!”
com a mesma urgência em que se busca por oxigênio após uma longa noite de transa intensa. Case-se comigo, para que eu possa apreciar uma eternidade de amores contigo, atravessando a meninice de uma adolescente apaixonada até uma senhorinha aguardando o deleite da morte após viver um amor que só você é capaz de me servir. Case-se comigo e façamos a tola promessa de nos encontrarmos nesta e nas próximas vidas, porque o clichê de te amar em apenas uma é realista demais para que eu o contemple em apenas alguns malditos e restantes anos desse século. Case-se comigo e me deixe gentilmente e dedicadamente ser o que você precisa que eu seja para além de sua.
— b.m
Oh, you fill my head with pieces of a song I can't get out!
76 posts